0001. Dias, procuras e encontros

Um dia quis eu ser poeta
Num belo dia amanheci,
comprei um caderno e escrevi
Briguei com as palavras
Procurei sinônimos e adjetivos,
encontrei desilusões

Um dia quis eu ser filósofo
Num belo dia acordei,
não me penteei e me calei
Pensei comigo mesmo
Procurei todas as respostas,
encontrei mais indagações

Um dia quis eu ser músico
Num belo dia levantei,
arranjei um violão e tentei
Cansei meus membros
Procurei algum dom,
encontrei desafinações

Um dia quis eu ser romancista
Num belo dia anoiteci,
liguei-me e muito tramei
Pelejei com minha mente
Procurei uma história única,
encontrei desgosto

Um dia quis eu ser intelectual
Num belo dia me deitei
abri um livro e o li
Assisti a filmes cults
Procurei falar bonito,
encontrei decepções

Um dia quis eu ser pintor
Num belo dia entardeci,
uma tela em branco consegui
Branca ela continuou
Procurei inspiração,
encontrei aflição

Um dia quis eu ser escultor
Num belo dia me sentei
e peguei a pedra que encontrei
Lapidei-a, modulei-a, tentei
Procurei as formas,
encontrei o nada

Um dia quis eu ser revolucionário
Num belo dia madruguei
uma bandeira vermelha pintei
Colei cartazes em muros
Procurei mudar algo,
encontrei liberais

Um dia quis eu ser hippie
Num belo dia caminhei,
mochila nas costas coloquei
Sai pelo mundo andando
Procurei um sentido pra vida,
encontrei labirintos

Um dia quis eu ser
Num belo dia existi,
respirei fundo e tremi
Vi a mim e o mundo
Procurei algo,
encontrar-me-ei

Deixe uma resposta