0046. Juramento-manifesto de repúdio ao amor

Quão certo estava Mário de Andrade,
“Amar, verbo intransitivo”
Descobri que o amor não se conquista,
Não se descobre,
Não existe
O amor é uma face da dor
A face mais cruel e desumana
Um disfarce para os tolos

Oh, como fui um tolo!
Acreditar que o amor traz felicidade…
Mais tolo ainda quando confundi atração com paixão
E pensei estar caído nas garras do amor

Receio agora meu lamento ser inútil
Que como todos sou vil e fútil
Mas se não lamentar, desabafar,
O que farei?
Seguir minha vida simplesmente
Imaginando que só foi mais um,
Que logo a dor passa
Será mesmo que não devo olhar para trás?
Que devo erguer minha cabeça?

Em outros momentos até poderia
Mas hoje estou cansado de fingir
Fingir que sou frio e que não ligo,
Fingir que foi só mais um…
Ah, isso não!
Cansei!
Cansei dessa vida de mentiras a mim mesmo
Hoje quero olhar para trás e perguntar:
Por que?
Por que a vida me deu tudo
E não me deu o poder de entender a mente feminina?

Me sinto medíocre por pensar isso,
Mas sinceramente é isso o que passa aqui na minha psique
Em toda a minha vida só tive desilusões
Só tive quases
Meu problema foi ter assistido a muito filme europeu
Julietas, romeos…
Romantizei demais a vida
O que devera era batalhar mais

Mais?!

Todas as batalhas amorosas eu perdi
Achei que o amor fosse como um grão
Então reguei
Mas o solo era infértil
Achei que o amor fosse um contentamento descontente
Então me joguei
Mas o abismo era pequeno
Achei que o amor fosse desilusão
Então dancei sozinho
Mas a música não começou
Achei que o amor fosse um grande laço
Então me amarrei
Mas o nó cedeu
Achei que o amor proteger-me-ia
Então comprei-o
Mas não sou rico

Achei tantas coisas
Mas destas só encontrei antônimos,
Paradoxos e antíteses
Metáfora para o amor só conheço uma:
O mar
Pois quanto mais se entra nele,
Mais se torna perigoso
Mesmo que saibas nadar,
O menor vacilo e pronto,
Você é afogado nas profundezas
Na agonia perturbadora da morte

Acho (detesto esse verbo),
Acho que sei o que farei,
Acho que irei me condicionar a ser um ser insensível
Sem a mínima expectativa em relação ao nada
Há tempos penso assim
Mas ontem foi a mola propulsora dessa loucura

Que digam: “devaneio”
Que falem: “sonhador”
Que pensem: “pretensioso”
Mas minha fé foi abalada
Cansei de sofrer por algo inexistente,
Irreal, ilusório e infundado

Que essas linhas
Sejam um juramento
Que faço a mim mesmo
Um juramento-manifesto
Um grito de desprezo e asco
Um grito de liberdade!
A partir de agora nada espero da vida,
Ou de Deus, ou de mim,ou de outrem
A partir de agora não sei o que farei
Só sei que quero passar a centenas e centenas de quilômetros
De qualquer idéia de amor

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