0192. A vida?

desisto de tudo
e recluso-me na
bruma do acaso
renego minha mente
desistindo de lutar
choro cacos de vidro
choro melodias
dissolvidas e desisto

desisto
não por vontade minha
mas por desejo dela
não tento, me entrego
surge a rendição
a batalha faz-se guerra
e termino sem começar

eu desisto, ela ri
ri alto e profundo
um riso seco e falso
um riso
e tal riso ressoa,
quando eu digo:
“eu desisto”

o riso, a ressonância, a desistência
ecoam na bruma do acaso
renegam a minha mente
e ela a provocar terremotos
com seu riso
tal qual cacos de vidro
que entalham os pulsos, a alma, a carne

sem esperança, sem lutar
os risos-cacos abrem chagas terríveis
sobre superfícies que
fatalmente já desistiram
e eu desisto

abro mão dela
e jogo-me sobre minhas
lágrimas e seus risos
me corto
sangro lágrimas de melodias vermelhas
ecoam melodias desistidas

um suspiro
nenhuma súplica
eu a olho
ela ri
seu riso corta
meus ouvidos
como uma melodia
afiada
outro suspiro…

desisto

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