ah escrever versos de paixão nefelibática
enquanto o mundo jaz em desigualdades,
conquanto os homens e as mulheres perdem-se em corrupções
de que me serve o platonismo?
por que não escrevo um operário construído
ou como Brecht demonstro os reais heróis?
é tanta miséria em toda esquina
deveras falta de dignidade humana
e eu chorando amores invisíveis, metafísicas
culpa talvez de tanta literatura precoce
tanto filme europeu e bossa-nova
e o árduo é ligar a tv e ver a fome
a culpa também deve ter sido de eu nunca a ter passado