0270. O ausente

Sou o ausente, a parca ostentação de um nome
Pretenso ser, que não é e nunca foi
Sou a solidão desacompanhada, o medo e a volúpia
da embriaguez desnuda da roupagem de um ego
Nunca alguém, antes de tudo nem ninguém,
sou o vazio.
E se alguém me sente é somente um acaso de Deus,
um momento de relapso num contingente de nadas
A personificação da inexistência é isso o que sou
A face indiferente do éter.
O nirvana não sentido.
E sou claro e discreto ao dizer que nada sou
e minha busca já não me achou,
mas prostrou sua alcunha de Deusa
e deu-me esse lindo nome:__________
Um acaso planejado por mãos femininas,
um subjetivismo não apreendido,
apenas caracteres neste computador,
e é isso que me dá os fragmentos dos infinitos.
O desejo não findo, a dor do Tudo
a vontade da morte,
o cansaço da rotina, a miséria da condição humana: eu
E neste lindo nada sou-o e não o sou
A companhia em si, a própria solidão
O ímpeto do suicídio, morte do amor que nunca existiu: isso, eu
Aquilo que não é notado ou percebido,
um assassino de positivistas,
um produto de unhas verdes,
a desilusão que não pára,
um pacato cidadão tão néscio quanto bêbedo,
um à margem de tudo, um à margem dos deuses.
Apenas translações no ocaso.
Um vazio e novamente a aspiração à morte: eu.
Quando ando pelas calçados ninguém mo vê,
minha sombra é mais perceptível
que minha infundada carne disforme
e descubro que o amor não existe
a cada passo que dou numa avenida movimentada
Sempre que ando a rua, vejo a dor,
a minha e a de outrem, só gritos de horror,
falta a suavidade,
falta tudo que me faça crer no amor
Sou o ausente.
Sou o amor.

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