1702. Tremores essenciais

e eu não sou nada erudito
pouco sei do que é o ocaso do ser humano
pouco sei o que se passa entre Eros e Tânatos
abaixo da curva retilínea da emancipação do umbigo
eu que só quis trocar as energias do ventre
e fazer do ecce homo apenas mais uma dentre tantas possibilidades de ser
eu que estou no meio de dEUs e zEUs
acobertado pela medíocre mendicância de ser
eu que produzo a natureza com meus sentidos
eu que natural sou-a apenas para conseguir se perceber
eu, cultura, que num ardiloso abrir da caixa e do pulo para fora do rio,
só consegui ser rio
e me ver sobre a inconfundível visão do outro
em si aos olhos de Narciso debruçado sobre a ribanceira
quase uma vitória-régia a se entregar à lua
eu, que apenas saí de mim para me ver

o grande drama da natureza e dos deuses

pouco

eu

e quando no céu brilhou aquela vista torpe de que o mundo poderia caber além de si
não vi nada
ou isso mesmo, nada
pois que depois da erudição eu não entendi nada
e tampouco senti
eu, que entre os encargos do medo e da manutenção dos genes
abdiquei do ser num fenômeno
ou fiquei no fenômeno do que existe para si
eu, que potencializei a vontade, hermético

que destruí a ponte e armei uma cancela

esse eu aí que desbunda a potência no fálico de um cigarro queimado
vontade ainda

2 comentários em “1702. Tremores essenciais

  1. Calma, espera um pouco… Tive AVC em maio de 2020 e estou com afasia, que é uma dificuldade em programar a fala. Mas compreendo muito bem. Posso conversar mais preciso de um tempo maior para elaborar. Por favor, tenha paciência… 🥰

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