em algum momento ou lugar
perdi a consternação e o brilho nos olhos
o sorriso não maculado
a fé e o apego ao ato fortuito de
vislumbrar o mundo como algo possível
de se estar e ser rodeado do que possa
ser chamado por bom ou belo
essa coisa de se pegar olhando o que
é apenas sutil ou simples
como o azul imponente do céu
pelas frestas dos galhos já secos das barrigudas
como falar com deus por letras
poucas, mas quistas e leves
como desvendar nuvens e estrelas
como saber qual face a lua mostra
como ainda encontrar ternura
num rebolado que passa solícito
queria a beleza novamente
o encantamento fácil pelo mundo
a descoberta que trouxesse vontade
essas coisas que ficaram perdidas
entre um olhar blasé qualquer
e o desenredo de um romance
que fica pálido e com parágrafos
imensos e monótonos
e que insisto em chamar de vida
isso que se consumiu no momento
em que o estado de graça
foi asfixiado pelas mãos brutas da
necessidade de se manter vivo
mesmo sabendo que necessidade apenas
não mantém nada vivo
apenas possibilita à carne fluir sangue
em algum momento ou lugar
deixei não o que fazia a vida
ter sentido, mas sim,
o que me fazia sentir a vida