2319. Sem pressa (ou utopia)

Havia pouco menos de
um palmo para nossas
bocas se encontrarem
Eu falava sobre a
aleatoriedade da vida
Você sobre a
sincronia do acaso
Pausadamente meus
olhos percorreram o
chão de madeira
a frondosa mangueira
um bocado de estrelas
uma meia lua inteira
e seus olhos de esgueira
Você atenta ao éter
disse que minha voz
lembrava coisa boa
E eu te doí com a
triste história de
meus vastos fins
Você ajeitou sua
franja delicadamente
caída sobre os olhos
Eu ajeitei frenético
a blusa nos ombros
e afaguei um tanto
seus cabelos
Sentimos um frio vir
lentamente amornar
o quente do dia
Encostei minha cabeça
em seu ombro vendo
que seus olhos fitavam
de soslaio minha boca
Da minha pra sua
a distância diminuiu
para três dedos
Sentimos a respiração
quente um do outro
Foi quando aquela estrela
cadente passou
Você não me disse
mas sei que o pedido
foi o mesmo, posto
que não nos beijamos
apenas saímos abraçados
pela noite, rumo ao
sono que nos traria
ao amanhã e que deixaria
tudo com um gosto
de que o melhor ainda
estaria por vir
Despedimo-nos com um
beijo no rosto
cada boca a meio
milímetro de distância

Simplício Mendes, PI.

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