Quando pediu a terceira
caipirinha
e se perdeu um pouco
falando em espanhol
que eu que tinha charme
e que era “muy interezanto”
eu firmei meus
olhos flutuantes
pela quarta dose de pinga
preparei todo o resto
do meu ar de latin lover
que ainda podia existir
e sorri o sorriso mais
possível que podia ter
e falei que ela é que
tinha as medidas certas
para o imprudente
Quando ela se recostou
na cadeira como uma
lagartixa meio bêbada
pernas por cima dos braços
da cadeira
eu me deixei cair sobre a mesa
e ainda tive forças
para fazer uma flor de origami
num resto do maço de cigarro
ela ficou lisonjeada
mas aí veio o garçom com
a saideira forçada,
mas deu tempo dela escrever
no meu caderno:
“Cucillez aujourd’hui les roses de la vie”
e saímos a subir ladeiras
cantando a plenos pulmões:
“Non, rien de rien,
non, je ne regrette rien…”
Noite de boa essa,
sem nada além de uma boa companhia
para dividir caipirinhas…