passo os dias a lapidar diálogos impossíveis
então, naquela vez em que olhamos a estrela
e você me disse que não era o azul
mas o laranja que era a cor mais quente,
você quis dizer que ainda gostava da vida?
a ânsia pela completude de uma resposta que não virá
me deixa como um paranoico à deriva num mar revolto de ódio e insegurança
segurando os cascos e os pelos
para não despontar pelos campos num trotear insano
passo os dias a ler os grãos de poeira e traços dos gatos no chão
o problema não é a impermanência da vida,
ela é a solução
a questão não se afigura nas respostas,
mas nos caminhos
e exatamente um ano atrás, eu sequer sabia que haveria essa possibilidade
os dias são dizeres destópicos
e o futuro é a trilha para o diálogo:
a utopia de não se aprisionar em si