Pessoas queridas e poucas que ainda me têm em suas vidas,
aviso que vou me matar.
Não se preocupem se o peso desse verbo enclausura seus peitos
de um acometimento desmensurado a moer as entranhas e umbigos.
Para que durmam o sono justo e tranquilo, mudo o verbo,
já atino: vou me enmatar.
Virar mato, mata, pau.
Virar essa inutilidade que alcancei primor,
esse desmerecimento da cultura.
Enmatar-me para que o que digo seja só sussurro de luz da lua,
segredado ao vento abafado e esbaforido,
como o que avoa e nem faz força para se des-ser.
Serei mata para me apoderar dos meus verdes
e tilintar sabiamente nos olhos da margarida
vida abelhas.
Enmatar-me-ei:
tornar-me terra, depósito de sombras e negrumes
que anuviam-se em água rio de dentro,
até gruta gritar os lodaçais que devem sair.
Queridas pessoas poucas que por acaso dos movimentos elípticos
ainda me aderem a seus sóis,
vou-me mato, momento raro de se desprender do ardor,
ser-me pedra, bicho, flor, desbotar-me os tons em paz
como ranhuras no ocaso, rasuras nas nuvens
rasgo laranja no negro do firme ar.
Enmatar-me para mato em si dar. Tá?