A cidade é uma só?
Se perguntava sempre.
Talvez, depois dos
escombros, reparava
e arrematava.
Os significados e sentidos
são estanques, instantes.
A depender das condições
meteorológicas do peito:
o motor das percepções,
jaula líquida da memória.
A cidade é uma só,
mas becos e vielas são
numas porções só.
Pedaço que é toda ela,
que não se manifesta.
Onde a festa é outra
e a farsa é fim.
Expectativa do último
capítulo da novela das nove.
A cidade é uma só
no fluxo cotidiano:
um só sono na ida
e na vinda,
do concreto ao cerrado,
e vice-versa.
E no sono insone de
cada dia massante,
o vai-e-vem da grana.
A cidade é uma só
pra quem pode:
pra quem quem sem
documento sem,
quando a cara e a pele
por si só dizem:
é alguém.
A cidade é uma só,
essa solidão comprida e cumprida,
também.