ele não sabe mais nada sobre mim
tampouco pergunta
não sabe que todos os dias eu choro
e reflito acerca da inexistência
não sabe que nada disso se trata
do desespero do suicídio
ou do afã de um fim de amor
não compreende que cá dentro
existem celas, que me aprisionam
cada ânsia um cárcere
grades e mais grades que antecipam
o real da vida e comprimem
não o peito, mas me comprimem dentro
dele, do peito
ele não me olha mais nos olhos
por medo da verdade
eu me encolho e nem tenho mais olhos
tenho correntes, paredes
me prendendo e espremendo
é tanto entranhamento que gera
um próprio estranhamento
não me reconheço
mas ele ronda tão próximo
e tão longe, tem pés de seda
mãos de afeto, que não tocam nada
ninguém
ele sabe do que há de vir
mas não me conta
fico aqui, em coma
dentro dentro
meu próprio carcereiro
ele, o discernimento