Os ipês com suas folhas belas
prontos a logo mais perdê-las
desnudados pelo céu azul anunciado
logo o vento de maio irá vê-las
esparramadas pelo chão vermelho
até que junho adentre em tê-las
Amarelo, violáceo, rosa ou branco
o cacho em cores ao dia candeia
os tons dos céus aos fins dos dias
repetem as flores ao procedê-las
Mas algo assim não se vivencia
só na selfie e na postagem tateia
A comida dos olhos para a alma
já não basta em si de si ser plena
é preciso o registro efêmero
como transitória é a vida ao sê-la
sem se viver do que é feita
resta o mero de uma imagem dela
E por tanto diluir o que o peito
queria concentrar até nas veias
o belo, a flor, a cor, a forma
viram algo de matéria etérea
Foi só um momento, um clique
um close, que quase pensou-se tê-la