o poema da meia esfera da vida
deveria ser escrito em castelhano, já adianto
mas tenhamos nossas impressões
com as sinapses à lusitana mesmo
o poema da meia esfera da vida
nos fala dum movimento, não fala de
poderia ser tido em um quarto,
um quinto, um cêntimo
ou num sentimento
até mesmo num milésimo
o poema da meia esfera da vida
se encaixa tal e qual
em toda vida de qualquer vivente
se a esfera completa se efetivasse
junto a trinta distâncias do sol
o poema da meia esfera da vida
deveria ser lido
à sombra de quinze translações
ainda que o poema da meia esfera da vida
seja para sempre e sem direção
tendo qualquer exemplar
da tecitura humana
a paixão por lê-lo
ele é mais que um marco,
é uma passagem, um portal
o poema da meia esfera da vida
poderia marcar apenas um azimute no céu
mas poderia mesmo ser um poente
fechando o horizonte em curva
ao nascer de uma longa noite numa vida
ou quem sabe ser nascente de cachos dourados
a uma vida que até a meia esfera da vida
estivesse apenas na escuridão
o poema da meia esfera da vida
nunca foi escrito,
há uma conta magnética
que deve ser feita antes
e uma reza secreta que deve ser rezada
transliterada do egípcio ao igbo
o poema da meia esfera da vida
possui uma estrofe muito estranha
que começa com a saudação
“uma dedicatória a Juan…”
e termina com um mote e uma glosa
“perto do coração selvagem”
o poema da meia esfera da vida
não se combina e não fala da história
de uma meia esfera de uma vida
e nem do futuro em que se circundará
o poema da meia esfera da vida
possui uma trilha sonora afro-peruana
e apenas incendeia o peito de quem
percorre a meia esfera da vida
ele,
o poema da meia esfera da vida
que nunca será feito