3948.

no mundo inteiro as mesmas palavras
na mesma ordem
no mesmo compasso
e quando eu falo sobre seres da lua
já me cospem teoremas e tédios
e minha boca fica perdida
aprisionando alegrias
dado o monotônico do mundo

minhas palavras não
são possíveis nem passadas
nem tem poder
são bardos que se liquefazem
por dentro do sangue

e nenhuma montanha
retornou minha voz
nenhum eco se fez
nem no alto nem na foz

desaguada sem sair
cada palavra lago barragem represa
em mim solavanca
tromba d’água e me afoga
cachoeira negativa
meu dentro

e essas palavras
as mesmas todas
rasgando minha pele
açoitam minha face
e o mundo gosta disso

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