0048. Normalidade única

Se o amanhã não existisse
Viveria como se deve viver
Olhando para frente
Sem se perguntar o porquê

Se o amanhã não existisse
Observaria sem julgar
Falaria o que penso
Sem nada me preocupar

Se o amanhã não existisse
Seria cômico demais
Contemplar os humanos
Insanos, parecendo animais

Se o amanhã não existisse
Não faria tudo o que sempre quis
O queria deveria ter feito
Quando o amanhã ainda estava aí

Se o amanhã não existisse
Enfim iria constatar
Que seria muito tarde
Para se deixar e amar

Se o amanhã não existisse
Hoje seria um dia comum
De todo os que nós vivemos
Apenas mais um

Se o amanhã não existisse
Descobrir eu iria
Que este nunca existiu
Tudo foi só um grande dia

Se o amanhã não existisse
Escutaria a explosão
De todos os seres dementes
Aproveitando toda a paixão

Se o amanhã não existisse
Faria minha última meditação
Esquecendo a carne
E toda e qualquer libação

O amanhã já não existe
Para que tanto concreto e aço
Já não há mais futuro
Me sinto sufocado nesse espaço

Não falo nada demais nessa poesia
Na verdade não tenho
A mínima idéia do que faria
Só escrevo sobre um tema estranho
Tentando fazer algumas rimas

É inútil falar em “se”
Mas, se o amanhã não existisse
Hoje não escreveria,
Hoje eu viveria

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