0264. Anseios numa fronte

ao fim do show o poeta corre
para não perder o ônibus
nada de novo nesse front
e na fronte do poeta versos beatniks
em beats modernos
a sua fronte tal qual linhas de concreto

com a alma longe
e os chakras despertos
pelo som de Zeca Baleiro
o poeta pede uma dose
que lhe finque um pé no chão
e uma mão em marte,
Bukowski e Sartre em um gole

o poeta corre e corre
findou-se o show e o ônibus voa
só um som mudo para indicar
que a perda do ônibus é inevitável
um som e um anseio
a vodka e o vazio:
um eco de Zeca

enfim o poeta fatigado
vê seu ônibus alçar vôo
e os passageiros desabusados
rirem de sua fronte
dessa tez de poema abstrato

assim o vejo todos os dias:
tropeçando em pedras e a ver navios
enquanto todos voam,
e com sua alma presa
e um machado em sua mão direita,
nunca desistindo de levantar,
talha poesias em caras de pau

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