Há tempos não nos encontrávamos…
Como andas?
Eu? Vou indo, ou melhor, a vida me leva;
mas vivo, já é um bom começo…
Agora você, está feia não? Acabada.
É, eu sei, o tempo ninguém perdoa.
Recordo-me daquelas longas tardes
em que passávamos só nós dois,
difamando o mundo… era divertido!
Uma prazerosa solidão acompanhada.
O céu era até esse mesmo:
infinitamente azul, o único amor sentido…
Lembro-me que ansiosos ficávamos
ao chegar as quatro horas,
o sol de um sabor inigualável.
As poucas nuvens de um lilás tão intenso,
que até tínhamos vontade de não morrer…
É, mas o tempo passou, me afastei — confesso.
Pensei agora o quão ingrato fui,
troquei-te de repente, sem explicações.
Deve ter sido difícil
Você deve ter visto como a humanidade é:
insensível , fútil, louca, idiota e medíocre.
E o pior é que todos os dias eu passava por ti
e nada falava, nem um aceno de cabeça…
Como sou idiota!
Mas cá estou eu de novo, redimindo-me
de meus pecados, de joelhos em perdão.
Pois só tu me entendes,
segredos que nem ao meu quarto contei,
você os sentiu forte,
tantas horas mortas ao teu lado,
tantas lágrimas colhidas…
E quando tu me davas aquelas pedras
que eu jogava ao outro lado da rua?
Ah eu extravasa, ficava feliz…
Tu tens noção disso?
Contigo eu ficava feliz,
uma felicidade pura, sutil…
De quando em vez eu trazia um amigo
para trocar sentimentos, idéias, anseios
e você não ficava enciumada,
abria os braços e o acolhia, o compreendia
Ah! Quão compreensiva tu és!
E eu te abandonei!
Infinitos perdões seriam suficientes?
Creio que não…
Mas cá estou eu: triste? Deprê? Só?
Melancólico com certeza…
E você me acolhendo sem ressentimentos,
sem perguntas!
Apenas afagando-me com o vento,
com essa primeira estrela na noite que vem
(e tantos desejos…).
Só você mesmo para me entender,
minha feia e linda Calçada.