sentir tudo em suas mãos
e não abarcá-lo em seu peito
é ter a verdade
num lapso de uma fração de segundo
não entregar-se à essência em suas mãos
é despencar em aflição
por conta de alguns neurônios a menos
que problematizam uma possível depressão
sentir tudo em suas mãos
e nada em seu peito…
como sinto a não-verdade!
ter a solução em milímetros
é espelhá-los no encontrar de paralelas
no oposto da imagem reflexa
que já sucumbiu em realidade
oscila o mundo o tempo todo
e tudo e nada em suas mãos
mas não se preocupem,
sempre hão de aparecer
um antropólogo esquisito,
um pedagogo semi-deus,
ou um advogado brilhante
para te deixar com cara de nada,
com cara de mão
cada um com uma brilhante verdade
para calar-te a mudez
de seu ser mudo à luz
para desmerecer o pouco que
te fez com tanto apreço
aquele pouco que te é
e que lutou odisséias para tê-lo
chega um desses e te marca
a existência numa transcendência
de acasos em mãos
que não acendem chamas em peitos
gira turva a aflição
da entrega à não-verdade
debruça-se numa existência sub-atômica
e o tudo escorregando entre os dedos
de sua mão
e a solução se esvaindo
e a seratonina se acabando
e maracatus, lutas políticas e teses de mestrado
deixando você e seu Bukowski
como restos do que já existiu
– fragmentos de uma grande explosão —
como um universo paralelo néscio e medíocre
sentir tudo em suas mãos
e não integrá-lo em seu peito
é insustentar-se como ser
ainda que nem leve nem pesado
ainda que medíocre e mundo pouco ser
caminho em linhas paralelas
equilibrando o tudo às mãos
o nada ao peito
e as oscilações da alma em aflição
e bombas de antropólogos, pedagogos e advogados
querendo derrubar-me das linhas
mas medíocre, insignificante
mudo, sem neurônios, sem seratonina
– pouco por assim dizer –
sigo a trilha do infinito
e espelho-me no que escorrega
pelas mãos