tirei hoje meus óculos
exceto ao sono e ao banho
(e de quando em vez nem neles)
pouco me recordo de os tê-lo
retirado da frente de minhas retinas
ah, qual surpresa descobri
quando os tirei hoje
quão maravilhado me vi!
há tempos não via o que vi,
vi tudo sobre outro diálogo
com os meus miolos
foi assim que vi que não era luzes
mas sim mandalas luminosas
destacando-se de um quadro
vi que não eram mais indivíduos
ou pessoas, eram todos iguais
uma massa amorfa de corpos
móveis à revelia da beleza ou
da feiúra
vi que não eram mais
nuvens, mas sim tons de
cinza rasgando o céu
vi que não eram mais automóveis
e sim caixas sonoras com duas
mandalas na frente e atrás
vi que não havia mais paisagem,
mas cores, luzes e formas numa
continuidade aparente
vi um mundo mais inteligível à
minha alma do que à minha
construção cultual do mundo
hoje meus amigos e amigas,
como fui feliz!
sem formas, sem informações,
sem conceitos
só um contínuo
só o infinito
só
e confesso amigos e amigas que tenho medo agora
de prosseguir o caminho com essa dura
realidade vítrea em minha face
que descortina o mundo em definições