Depois do advento da internet
E sua conseqüente popularização
Temos poetas por todos os lados
Fotógrafas em cada esquina do espaço virtual
Músicos pra cada ouvido do mundo
Artistas reinterpretando a realidade
Em cada comunidade do Orkut
Aos que ambicionam o projeto civilizatório
Aos amantes da erudição
Cada ímpeto disso tudo é uma arpada em seus corações
Conscientes da teoria da arte
Da metodologia das letras
Das epistemologias científicas
Maldizem a vulgarização
“A arte foi colocada ao mister da repetição!”
“As letras foram mortas num nonsense significativo!”
Bradam os revoltosos do alto de trio-elétricos
Quase sindicais
“Para onde foi a essência?!”
“Como se projetam essas existências?!”
São perguntas que não se calam diante desses
Eu os fito com o mesmo desprezo aos olhos
Que eles imputam aos chamados pseudo-artistas
Pseudo-escritores
Eu amo todos os pseudo-alguma-coisa!
Um viva à poesia pobre, rima sem estrutura e sem metáfora!
Um viva à arte indigente, sem nuances de tom e de luz!
Um viva ao conto confuso, sem ritmo, sem sintaxe gramatical!
Um viva à música sem fãs, ao som eclético e só referencial!
Um viva à performance da aparência!
Eu quero a lógica fragmentária do sample
Anseio o caos desordenado de manifestações ultra-sentimentais
Desejo a incompletude dos projetos artísticos maculados
Espero ardentemente a palavra medíocre clamando por uma leitura fácil
Viva os blogs, fotologs, mp3s, playlists e afins!
Que qualquer escreva poesias
Que se expressem de toda forma
Que a arte não seja exclusiva das elites e dos intelectuais
Eu quero a poética do caos de todos serem poetas
Eu fico com o torto e com a torta
Que morra a erudição