imagina a tensão:
no meio do cerrado ainda armado
ônibus lotados
trazendo os pioneiros
da decapitação da mata
sonhos, expectativas,
saudades e
braços e troncos e pernas
e cabeças e mãos
e suores já gastos
postos a serem ainda mais gastos
imagina a loucura:
da mistura cafusa, mameluca
de esperanças mantidas
com pão parco
herdeiro da substituição do
trabalho escravo
imagina o caos:
tratores, caminhões,
poeira
imagina isso em junho
imagina sem lago
imagina o vento frio na seca
e na imensidão do céu preenchendo as existências
imagina a terra sendo rasgada
imagina isso doido que foi
travestindo-se disso hoje concreto
e ainda queriam que quem fez isso hoje concreto
com o suor gasto de seu trabalho
abençoado por esse céu de louco
voltasse ao final para o início de sua lida,
esses outros tantos rincões disso tudo
que forma o contínuo desses brasis
com o suor e as mãos firmes ficaram
e ergueram como nos outros brasis
mil brasis possíveis às margens da
ilha de concreto erguida ao redor do cerrado
Acho que só nós daqui conseguimos captar isso realmente. Os de fora tem imagens tão longe do que passa na gente quando olha isso tudo aqui…
Essa proximidade espaço-temporal deixa mais próximo de dentro esse tanto de fora que margeia. Bjs!