Antigamente, bastava um rasgo de céu
e meu peito já se ampliava até o infinito
Um fresta de sol ou um pingo na testa
e tudo se carreava em descarga elétrica
lavando e levando o que havia por descarregar
Naquele tempo em que eu tinha ainda
o pouco de vida necessário para encantar
Foram naqueles dias em que o habitual
era a poesia no espelho a encarar
Quando todo ontem era viva marca do agora
e o todo inteiro do anseio do que virá
Antigamente, era preciso apenas uma carta
vinda de mala, mula, longe quilômetros
Para arrepiar a espinha e tornar a vida
coisa que valia, como se regar plantas
fosse o suficiente para cuidar
Tempo em que abrir um livro fazia sentido
e as histórias pautadas na páginas eram um ornar
Momento em que o sentido não era mero
desencantamento, poeira de quasar
Lonjura de tempo onde a mística do sol grosso
era só pra encosto e não pra remodelar