quando me foi dada a missão
depois de tudo volvido ao ventre mãe
quando me inteiraram da função
que o malogro do distanciamento vagou
tinha por certo de novo separar
o que dentro da esfera girava misturado
só ventre e poeira
mãe já não havia também
só secura
era pó e quentura
pingo de estrela crua
e eu não tinha mais cabeça
ninguém quis
tinha pé e mão e tronco
e fui fazer então ela
que mar de novo tinha de vir
e tinha de ser feminina
separei cada pedaço de água que tinha
e salguei com sangue do peito
que é o mais salgado
era toda água muito miúda
e sem cabeça ficava mais difícil de separar
fui pelo tato
que água a gente sente jorrada
pelo toco dos dedos
o pó todo eu soprei e voltou estrela
a água eu amaciei doçura
ternamente e envolvi ela mesma
gota a gota
com sal de sangue de peito vivo
fiz redoma de água salgada
e veios de água doce atravessando
gota única dentro do céu
girando o sol
recompus só a mar
e me desmembrei larvas dentro dela
cada pedaço uma família de peixes
irmãs e filhas e mães
sem barro.