4110. Machine poeting

Falávamos ao vento
ninguém ouvia absolutamente nada
que não tivesse vindo
de um nó aplicativo

Nossa voz não reverberava
em ninguém, em nada
Comprimíamos o nosso próprio
atacanhado tamanho em nada

Sem adesões e sem gostares
e o mais enfadado: sem interlocução,
falávamos como araucária no meio da soja
ou pequizeiro no meio do pasto
Uma linguagem de outros modos
ao pé de ouvidos com fones

Não falávamos,
berrávamos para nós
e nem nós nos escutávamos

Apenas insistíamos em ponderar a loucura
de tentar falar uma língua morta-viva
para zumbis surdos

E os poemas pipocavam como
uma glossolalia sem anjos,
só ciborgues a assaltar todo significante
todo símbolo
qualquer signo
e todo significado

E olhávamos com pasmo
aquele blindado big data de figuras de linguagem
e um novo algoritmo poético
a despejar belas canções que jamais serão lembradas

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