Enfrentar o tédio da vida
sem deslizar dedos no éter dos metais raros,
entrar no embate
com os coleguinhas
sem se proteger
no isolamento que retalha,
sentir cair a noite
colando nódulos
de solidão no avantajado
da cama larga,
desmoronar o arremedo
da falta de vitalidade
num punch sem sentido
na moleira de uma
tarde de quarta,
esculpir novas fábulas
para desagrupar o
campo mítico que esquarteja
pássaros azuis aprisionados,
desinquietar os contentes
com um bundalelê na janela
bem na cara dos puristas.
Bora lá,
largamão desse quadrado
de auto-eficiência
nunca suficiente
e rola ladeira abaixo
na tentativa de equilibrar
as pedras que quebrou.
Bora lá,
hastear bandeiras
quando levantarem a voz
para dizer que é sem bandeira,
buscar a Bandeira Verde
que marcará o fim da seca,
plantar bananeiras
e chamar
chamar
chamar
chamar,
xamã
a quem dê e seja
e deseja.
Porque ninguém vai segurar
uma mão que só se ocupa
com o medo
e o toque no vazio
– ninguém segura (ou larga) a mão ocupada com os dedos deslizando no éter.
Ninguém vai chamar quem desapareceu.
Chama, vai.
Chama, há.
Me chama.
Tô te chamando.