E se…
minha mente comanda
por todos os lados.
É uma hipótese aventada
toada insone que não
dialoga com Hypnos
(ou só debate)
e que treta com Morfeu.
E se…
ela vem de novo
como se fosse algo
urgente e emergente,
dalgum canto emerge:
às vezes da superfície
– qualquer fio de pele
já sabe o percurso.
Às vezes vem de um clausuro
que nem me adivinhava
– masmorra-me.
Claustro do que me defina
(um h e tudo resoluto).
E se…
vem mais uma vez,
talvez porque falar de si
deva ser o melhor,
mas sem falar dela
para não ser invasivo
– e como se fala
dalgo que é duplo
e dúbio?
E se ela quiser
que eu fale mesmo
dela ou que eu
fale de mim que
diz dela ou só
de mim que a
mim me diz
sem parar e que
se perde em
dizer nada?
E se eu quiser?
E se…
mais uma vez irrompe
e rasga o traço de sono.
Tenho algo?
Digo algo?
Algo diz?
E se…
eu só acordasse
e visse que sono houve,
com sonho e o rol possível,
e que então, vida não mais há
e dúvida se fosse
e dizer desnecessariasse
e dentro, silêncio.
E se…
eu pulasse dessa janela
ao lado
sempre aberta
solitária
e fugisse da solitária
sempre aberta
do meu peito
por dentro
e me enraizasse no nada
sem querer ou vontade
– mas daí ela sobreviveria
quando eu não mais
tiver que sobre viver?
E se…
só for loucura e uma pílula baste
uma pílula de ferro e grade
que me agregue
sociavelmente possível
ou amorosamente aprazível
e irreconciliavelmente indizível
como o sagrado do
nome de Deus.
E se…
a sorte me pega
e um raio me acerta
e me teletransporto
para o meu parto
e me parto
em duas partes:
uma descartável,
monte de lixo que me habita
e outra luz,
donde raio de trovão
me despedaço desde
a nuvem ao chão.
E se…
mais uma vez
me descompassa
e carrega o corpo
trôpego
sonâmbulo em posfácio
preâmbulo de algo inerme
desescudo e descuido
dum observador desatento
do que me atenta
em segredo e me salta
(noite alta madrugada,
a mão fria, a mão gelada)
e se…