pausa: Paula Taitelbaum

Tem coisas que são mais que murros na cara, são quase chute nos ovos. Ok, péssima metáfora, ainda mais para alguém que, como eu, não é partidário de experiências masoquistas, esse papo de uma dorzinha aqui, o limiar do prazer, sei não, nunca consegui entender. Ou nunca consegui sentir o tal prazer na dor. Então tá, mudo a história: tem coisas que são mais que lambida nos ovos, são quase um gozo inteiro.

Eu estava no aeroporto (calma, infelizmente não consegui nada com alguma aeromoça dentro do quiosque da Infraero), o avião atrasaria sabia-se lá quanto tempo, papo pro ar, sem nenhum emepetreizinho pra dar uma estia, viagem pá e bola, nenhum livro também. Trouxa. Isso nunca se deve fazer, mesmo que não se vá ler nada durante os dois dias e meio em Vitória – o que se tem pra fazer mesmo em Vitória? – deve-se sempre levar um livro a tira colo, nem que seja só pra tirar uma chinfra com a mina: segura o seu Ao Farol, enquanto relaxa na cadeira do aeroporto com aquela cara de “isso, eu trabalho, viajo de lá pra cá, mas ainda assim, dou um tempo e leio Virgínia Woolf no avião”, enquanto olha pra ela por cima dos óculos… Clichê do clichê total. Mas, tudo bem, às vezes cola.

Aí eu resolvo dar uma olhada na revistaria. Afinal, aeroporto não tem banca, tem revistaria ou, na maioria dos casos, livraria. Enfim, entrei nesses mercadões de papel impresso estabelecidos nos portos aéreos e comecei a procurar algo pra ler: Carta Capital? Puts, sem chance, sem análises macroeconômicas keynesianas por alguns dias. Piauí? No way! CQC em papel não é minha praia… Caros Amigos? Hum, claro que não. Veja? Opa, to brincando! Le Monde? Aff, texto demais, sem saco total hoje. Quase comprei uma palavra-cruzada, o problema é que você não pode tirar uma onda com as meninas com uma palavra-cruzada, mesmo que seja o Super-Desafio Cobrão…

Continuei a tarefa de me distrair. Aquilo de olhar revistas estava ajudando a passar o tempo. Fui até a coleção L&PM Pocket e passei o olho: Receitas Vegetarianas, Pablo Neruda, Eduardo Galeano, Eça de Queiroz, Agatha Christie, enfim, gosto da L&PM, eles tem um critério randômico interessante para suas publicações, ao lado do A Paz Perpétua do Kant, e abaixo de Aline 2: TPM – tensão pré-monstrual do Iturrusgarai estava lá, isso:

Decididamente gostei do título e da capa, e a contracapa também era de um singeleza ímpar, apenas notava: “Desaconselhável para puritanos e menores de 18 anos”. Na orelha do livro uma grata surpresa:

Taitelbaum, Paula
poeta de renome
tem pau até no nome.

A biografia poética era de Claudia Tajes, de quem, graças à L&PM, eu havia adquirido o delicioso Dez (quase) amores, um livro de contos sobre uma mulher que tenta amar e acaba apanhada pela rude realidade desse nosso universo masculino obscuro… Mas tudo bem, isso é papo pra outra hora, o objeto de estudos delimitado aqui é outro, o recorte epistemológico é em Taitelbaum, Paula, que abre seu pocket assim:

Eu abro as pernas
para perpetuar
a tênue
ternura
do infinito
da Fênix
e seu rito.

De cara ela já se abre toda, mais ainda assim, um tanto receosa: tentar e se dar. Renascer a cada novo rito de de novo abrir as pernas exige, pelo menos, alguma ternura, pois que, senão, a faca em nossas cabeças seria fácil. Mas aí, logo na sequência, página seguinte mesmo, ela desata qualquer perspectiva de se conter:

Eu abro as pernas
para enrijecer
o grelo
descontrolar
o grito
gotejar
a gruta
e me perder
no atrito.

Ufa. Na cara essa. Ok, na cabeça, direto, sem preliminares, no máximo dois beijinhos de “prazer em te conhecer” e crau, já era. Li mais alguma coisa e fiquei pensando num adjetivo, naquele momento nada me veio a mente. Taí, agora veio. Taitelbaum, Paula, tem uma poesia friccionável:

Meu lugar preferido
é perto do seu ouvido
nas dobras da sua orelha
onde minha língua passeia
sem sair do lugar
é lá que enfio bem fundo
o verbo mais imundo
que consigo encontrar.

Dá pra esfregá-la em várias partes do corpo:

Ele traduz meu silêncio
reescrevendo com saliva
minhas saliências
no instante do refluxo
no reflexo das quatro pupilas
os pensamentos
são como palavras
ele pode me ler.

Tem quem tenha problemas com o pornográfico, como se o sexo representado para o deslumbramento – na maioria das vezes – solitário, fosse algo apenas intermediário, sem mérito, mas em grande medida, eu penso o contrário:

Na vulva vibra a larva
que logo será borboleta
sairá de seu casulo
vai virar uma boceta.

Há também os moralismos, que hoje se alfinetam em várias ordens possíveis e imagináveis, e ainda se flagelam com espinhos no cacete. Tem gente bem nova – e o pior, bem próxima – que até parece, se vê como a próxima vinda de Cristo, os arautos da moral e dos bons costumes, aqueles que vão trazer a novíssima boa nova. E recriminam o baixo, o impuro, o vil, como se falar palavra de baixo calão fosse melhor que os pensamentos demoníacos que os percolam dia a dia. Prefiro quem bota pra fora a palavra, sublima toda essa porra e diz em alto e bom som, eu trepo e gosto dessa zorra:

Tô cansada
de foda
cronometrada
queria horas
e mais horas
de cravada
depois dormir
em concha
encaixada
com a xota
cheia
e toda
inchada.

A poesia da Paula é paulada na moleira contra mitos. Às vezes o machismo cultural introjetado fala mais alto e eu até penso que essa poesia toda é meio miragem, coisa que não existe, tipo “mulher escrevendo isso?”, mas aí eu dou uma mordida no meu machismo e relaxo, que que tem uma mulher falar que gosta de dar o rabo?

Quando teu dedo
passa perto do meu cu
eu me sinto um pouco tu
tudo turmalina.
Quando teu dedo entra
atrás e através
eu arrepio o dedo do pé
pena perpétua essa minha.
Quando nossas pernas
formam um nó de nós
viramos corpos celestes
não te veste me traveste.
Quanto tua língua busca
o meu maremoto
eu morro subitamente
peixe preso na rede.

Tá, tem mesmo quem falará que ela é que é machista. Se enquadrando em estereótipos sexistas e realizando a fantasia de homens que querem as mulheres vadias, principalmente quanto ao sexo, desses mesmos caras que querem, na verdade, as minas castas para casar. Mas qual o quê, século XXI, porque a gente não deixa as pessoas gostarem do que gostam, principalmente quando o quesito é foder? (Ok, argumentos sobre pedofilia não estão sendo computados, beleza?).

Desenhe círculos
sobre meu clitóris
infinitos pontos finais
um pra cada um
dos meus ais.

Gosto de poesia puta. Gosto de sexo nas palavras. Cheiro de tesão em cada verso. Foi bom pra mim encontrar essa mina na prateleira da revistaria, orgasmo sem pudor. Talvez, foi bom pra ela, se esse lance de publicar livros der alguma grana, ela pode ter pagado um jantar que a levou para uma cama dividida com a minha ajuda…

Bom, sem problemas, que atire a primeira pedra quem nunca gozou:

De seus lábios surgem plumas
que me transformam em plasma
viro puro pleonasmo
pluma plasma pleno
orgasmo.

PS: Sítio dela mesma não encontrei, mas percebi – via Google – que tem muita coisa dela no blog da L&PM (como aqui e aqui). Aqui temos o perfil de autora dela na editora.

9 comentários em “pausa: Paula Taitelbaum

  1. Na minha opinião, puxa, você quase acertou…
    Ela [não] é [muito] machista…
    ela só quer vender…
    para carinhas como você.
    Na minha opinião, que poderá mudar..

    Curtir

  2. Oi Gui, legais os argumentos
    e nada contra poesia falando sobre sexo…
    mas poesias boa é poesia boa,
    independente do tema
    e achei a dela meio fraca =/

    bjoks =*

    Curtir

  3. Como diz Lurdes da Luz, “deixa meu corpo gritar onomatopéias, porque palavras, meu bem, eu nem sei de onde elas vem”. Deixo as palavras para Paula e o gozo para mim…

    Curtir

  4. Se a moça é boa ou não é boa… Ninguém tá aqui de gozação? Né? … … … Eu já escrevi uns poemeróticos, também. Não é meu forte. Porque, em geral, eu escrevo sublimando a libido, entendeu?, pra não sair atacando o povo na rua, pra dar conta de mim. Daí que eu goste de poesia erótica como a do Drummond que vem mineiramente, oblíquo, e me acende e molha em um gesto só, precisa e inadvertidamente, me ilumina assim. Já pornografia me deprime porque acende meu pavio, fica me fritando e não me explode o suficiente…

    Curtir

Diga

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.