Nunca palavras aparentaram ser tão inúteis
como agora
nada do que eu escrever
pode dilucidar meu espírito
neste instante
parece que caio num precipício
sem princípio ou fim
um precipício ornado de facas
afiadas por Deus
ou Krishna
ou Alá
ou Ogum
ou Buda
ou Tupã
ou Tudo
ou eu
eu caio
caio
caio
e nunca acabo
e às vezes me agarro a cabos
cabos de guerra
puxados na outra extremidade
por Deus
ou Krishna
ou Alá
ou Ogum
ou Buda
ou Tupã
ou Tudo
ou eu mesmo
eu mesmo me fazendo de palhaço
num circo infinito
circo abismo
onde rio
e rio
rio
rio
mergulho num rio
que acaba numa queda para cima
uma cachoeira invertida
tímida
para o espaço abissal
sideral
e subo
subo
subo
e nunca paro
pois no espaço não há cima ou baixo
por isso não sei se subo ou caio
tanto faz
frente ou trás
e neste espaço
onde o que expande é minha alma
eu vago
vago
vago
e vagabundo, vadio no espaço
e nunca acabo
olho para o tempo
e o descubro a quarta dimensão
e depois descubro infinitas dimensões
no espaçalma
e discos-voadores carregados voam
incrustados com sentimentos
alegria
tristeza
amor
ódio
e todo o infinito pulsante do sentir
pilotados por Deus
ou Krishna
ou Alá
ou Ogum
ou Buda
ou Tupã
ou Tudo
ou eu viajante
comandante dos orbitais
onde cada estrela é um desejo
cada cometa é um desejo desfeito
e o universo se mostra na minha pele
onde a espada da solidão me rasga
e fere o universo
que cai em gotas por entre a ferida
e por entre as pálpebras
e molham o abismo
pelo qual caio ou subo
e quando menos espero
vôo no céu anil do abismo
e vôo
vôo
vôo
vou voando veloz, voraz, vívido, vespa, vértice, vórtice, voz, feroz
lutando contra pássaros guerreiros
que me marcaram
com o seu pouco caso à minha pessoa
e provaram que o amor não vale uma migalha
não vale nada
se comparado ao coração uivante do vento
que não se apega a nada
a ninguém
vive por passar pelos outros
tão somente
tão só
e sigo só
só
só
somente acompanhado por Deus
ou Krishna
ou Alá
ou Ogum
ou Buda
ou Tupã
ou Tudo
ou eu companheiro
eu sei que
eu caio, rio, subo, vago, vôo, só
mas o que eu queria mesmo
era fazer um piercing na sobrancelha
e esperar minha companheira
que virá não num cometa
(pois este já foi desfeito)
mas sim num luar resplandecido por estrelas
lá no sol
a arder a espera
essa era de Eros
que marca a mente
esse ente de Tânatos
que marca a alma
essa palma de Deus
ou Krishna
ou Alá
ou Ogum
ou Buda
ou Tupã
ou Tudo
ou eu egoísta
ego agnóstico
panteísta
que vive
e vivo
vivo
vivo
e morro
morro
morro
morro abaixo (ou acima) no vivo abismo
e num sonho
Buda voava como um rabino
e me disse que Jesus Cristo
cristalizado no espírito de Ogum
vai voltar como Alá
na cabeça de um Hare Krishna
que lia Alan Kardec
numa aldeia indígena
na beira do rio protegido por Janaina
aí então encontrarei meu amor
e até lá eu vivo
e vivo
vivo
vivo… (?)