botas ecoam pelas avenidas
cadenciadas, ritmadas
legiões formadas em púlpitos
aparelhadas embaixo de altares
fileiras de medo e glória
esquizofrenia e paranoia
entoando a oração final contra
a nova perseguição a cristãos
turbas se aglomeram aos montes
prontas a decepar a cabeça da rainha,
como se houvesse rainha
imperioso, o ódio desconhece a ironia
vocifera apenas o pastiche
pastelão, a vontade de potência mais podre
torpe, turbilhão
as classes tomam ciência
as cores se aglomeram “esclarecidas”
as orientações se agrupam, normatizadas
corpos binários e revoltados contra qualquer multiplicidade
o mote deve ser único: um feixe de luz
os números saltam aos olhos
as cores se apoderam de significados
o teatro ideológico vira campo de batalha
e uma mortalha de estrelas cobre o mundo
o exército que salvará é de salvação
contra a danação do pecado e a pandemia da corrupção
coronéis se preparam, de amarelo e youtube
armas em punho, sentido!
sentinelas e guardiões da modernidade
não aceitam o que vem depois
querem o ontem, perfeito, como talibãs
a armada do combate contra a praga de todo o mal
é amante de toda a moral
e do epíteto ecoado do mote liberal:
a solução, meus caros, não é social
é antes de tudo e para sempre, do livre capital
além do que é necessário aplicar a pena capital
e reduzir a maioridade penal
e aceitar que a vida é desde sempre fetal
e que toda droga é fatal
e que não se deve ter prazer anal
e que a felicidade está no além carnal
e que toda mulher tem o gene do mal
e que o egoísmo é solução em si mesma, enquanto tal
a marcha continua, avante
incessante, impulsionada pelos bastiões da informação
os donos do definitivo processo de educação
(decepem até mesmo educadores, decepem, decepem, intervenham)
os formadores de opinião
planejando o futuro em torres de castelos
o futuro é lindo e quisto
então, vamos amar?