Nosso corpo só fala
de modo incidental
não escuta atentamente
fala sem a gente
Tamo lá, no centro
e sem lá, por dentro
é como se nunca escutássemos
a voz dos braços
das pernas
dos poemas intestinais
que sobem e descem
alturas em sair de si,
no amontoado dos tremores
a gritarem sem culpa
o estertor de um sentimento
Mudos de corpo,
nem sequer temos um
léxico corporal mínimo,
nossas partes são mudas
e os sinais não nos falam
Só há essa imagem-ideia
nuvem-nada
imóvel e cambaleante
eterna
a compor o que dizer