Era com aquela música que ela odiava que Paulo chorava por Maria. O cigarro seco no canto da boca seca pela seca do cerrado, misturava nos olhos de Paulo as lágrimas cristalizadas com a nicotina e o ar parado. Um aboio lamurioso cantado com sofreguidão percolava o ar junto à fumaça. Tudo seco. Paulo, uma seca só e o cerrado pegando fogo.
Uma lua ali, nem meia-inteira, apenas começo de sorriso, plena de vermelha pela fumaça das fogueiras da seca, no meio do cinza do céu de noites de agosto. E Maria longe léguas, com a propriedade da memória, perdida de Paulo para o sempre de agora, que é a eternidade que mais incomoda, esse sempre do presente.
Quando Maria se foi, no momento exato da despedida, foi-se embora com um beijo e um abraço. Beijo que não pôde ser colado e abraço que não pôde ser apertado. Nesse momento Maria perdeu seu “i”, que rimava com quem ria, e virou Mara somente.
Distanciando-se, indo para qualquer lugar em que Paulo não estivesse lá, com seu sempre presente corpo, Mara levou o que cabia dentro do seu peito e deixou para Paulo, além do peso dele mesmo só em companhia e corpo para o fardo de seu sempre, um de seus “as” e virou Mar.
Mar então sumiu de vez pelas fretas do mundo. Dando o ar da graça a todos que de Mar quisessem as águas. E Paulo em sua seca sempre, tateava com o resquício de mar incrustado em seus olhos, no meio da penumbra da noite cinza, sem saber que Mar perdia seu “r” e se evadia da liquifeição para ser desde então, Ma somente.
Depois disso feito, foi-se a dança da paixão deles, para o sempre do presente agora.