Os olhos de Ana Clara possuíam uma suavidade tanta. Era como se de suas íris irradiassem qualquer essência nefelibática e feérica, que envolvia qualquer ser vivente a metros de distância. Fosse bicho, fosse planta, fosse até mesmo vírus ou bactéria. Ana Clara tinha olhos de calmaria. Seu olhar invadia de forma branda e queimava uma paz retida em algum lugar do passado. Seu olhar se dizia tranqüilidade e, até na inconstância de Ana Clara, seu olhar se mostrava o mesmo. Até na frieza, até na loucura, até na dor.
O olhar de Ana Clara era negro, embora seus olhos fossem castanhos. Um negrume que se alocava na alma observadora, um conforto negro, um mar de cor preta que te absorve na temperatura mais amena existente. O castanho de seus olhos era o paradoxo mais intenso, entre o mel de uma sensação momentânea e o sem gosto de uma paz perpétua. Era a absorção de todas as luzes em um estado de espírito leve.
Uma coisa sempre me perturbava no olhar de Ana Clara. Era saber se seu olhar ou mesmo se ela própria tinha noção do quanto que pelas suas lentes pulsava o acalanto mais suave existente. Teriam aqueles olhos percepção de si?
Não me recordo quando fora a primeira vez que me atinei àquele olhar. Teria sido já em seu colo ou no relance de um flerte? Poderia ter sido dentro de um ônibus qualquer, ou mesmo no constatar de uma febre insistente. A questão é que foi.
Olhos de calmaria. Atentos a qualquer subversão de um espírito machadassisniano. Olhos que demoviam o sentido de calma e não o da dúvida. Olhos que se aplainavam as rugosidades da alma. Olhos castanhos de um negror lindo. Ana Clara e seu olhar, Ana Clara e seus olhos. Ana Clara sendo Ana nos olhos castanhos e Clara em seu negro olhar, era Ana Clara, seus olhos e seu olhar.
Ana Clara era meu amor àquele instante ao meu olhar nu em meus óculos diante da roupagem tão linda de seus olhos em si em seu olhar.