Ela sempre sentia aquilo quando ele se aproximava. Era uma dor aguda no átrio direito e uma angustia profunda no canto das unhas. A dor surgia de uma mistura havida entre o sangue venoso e a aproximação deste que a apagava por inteiro. A angústia era algo como um constante pesar da vida sobre o canto de suas unhas.
A dor amainava fácil se ela pensasse na cor verde, mas a grande questão – posto que era sim uma questão e não um problema, afinal, não existia uma solução, mas sim, ainda outros apontamentos – era a da angústia.
Tal sensação começava bem nas cutículas e ao final apoderava-se de todo o canto de suas unhas e esta região parecia ser orientalmente ligada a qualquer coisa de sua alma. Um canal que fluía tudo que fosse o latejar de uma condição insuportável e insustentável: uma melancolia absurda.
Ele se aproximava devagar, quase a vagar entre o escondido das horas. E cada passo dado era mais um centímetro galgado ao encontro do precipício definitivo encravado no canto de suas unhas.
Às vezes parecia que a angústia supurava a dor do átrio direito, mas fato era que a dor continuava junto à angústia. A intensidade é que era algo diferente. A dor não era insustentável, ela tinha seu quê de possibilidade, a angústia não. A dor era até bem quista, parecia com algumas lembranças da infância, a angústia já lhe remetia algo particular a sua maior-idade e até mesmo à sua pós-maior-idade.
Quando ele chegou, cantaram-lhe parabéns e ela ficou bastante triste. A tristeza até cortou a dor do átrio direito, deu-lhe a máxima contenção de algo já findo. Aí deram-lhe presentes e alegria e ela só a sentir suas unhas.
Quando ele chegou, deu-lhe mais um ano, mais um engodo existencial e ela começou a comer todos os cantos de suas unhas, até que sua angústia foi parar em seu estômago e não demorou a ela se misturar ao sangue venoso e ir completar a dor de seu átrio direito, que já havia passado.
Aí ela pensou em verde e ficou feliz.