Tenho vontade de falar, mas tudo deveria ter sido dito antes, naquele não momento, naquele lapso que quase existiu. E como o tempo todo foi perdido para que coisas sejam ditas, não falo. Como sempre fiz. Por não falar é que imagino a cena, era como se você estivesse ali, mas não ali, como sempre, talvez dentro da sua cabeça, dentro de si, eu só inexistindo, sem saber onde por as mãos e a aparência de ser. Eu diria algo que não teria volume para mover o ar e voltaria tudo para a minha garganta e viraria nó. Você sairia para lá e eu me moveria como se tivesse matéria, até algum lugar e não teria dito, mais uma vez.
E agora tudo não será mais dito, como não foi.
Pego a memória e falho, o nó é cultivado a tempos, não é de agora, é de antes do não momento provavelmente. Já não choro, assim como não falo. A roupa de escamas e pelos e bestas e cascos e gosmas é o que visto. E urro, grito, berro. Assustador. Essa é a minha inexistência nesse momento, até que não existirei de fato, como senti não existir em mim ou em você. Mas não falei. Meus monstros serão sua memória, até não ter mais memória e só existir não momentos. E a gente não terá sido, assim como eu.
E nada será dito, amanhã.
Guilherme,
Maravilhoso. Contemplei todas as palavras.
Que bom que tenha apreciado. Tem coisa demais para ser dita, como não digo, escrevo.
O bom é escrevermos o que poderia ser dito e isso ser compreendido tão bem por outro.
Ler palavras que soam.
Escreva mais.
“)
É lindo quando há compreensão, quando em alguém soa.
Continuo escrevendo, não tem como não o fazer.
Que bom que não ♥