Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia atenta para a afasia

Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia atenta para a afasia

Fonoaudióloga esclarece sobre os sinais do distúrbio

Tarde Nacional

No AR em 17/06/2021 – 16:30

O mês de junho é dedicado a atenção à afasia, distúrbio neurológico que afeta diretamente a comunicação do paciente. Por isso, a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia está promovendo campanha para a promoção de informação e esclarecimento sobre o assunto. Neste ano a campanha intitula-se: “Entre a informação e a afasia, seja essa ponte”.

Para falar sobre o assunto, nesta quinta-feira (17), o Tarde Nacional conversou com Maria Isabel D’Ávila Freitas, Fonoaudióloga e coordenadora do Comitê de Linguagem Oral e Escrita do Adulto e do Idoso da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia – SBFa. Segundo ela, a afasia é o termo que se dá a uma sequela de uma lesão neurológica. Essas lesões podem suceder de um acidente vascular cerebral, tumor cerebral, infecção no cérebro ou demências.

A sequela causa o comprometimento na fala ou na compreensão da linguagem, podendo repercutir-se na linguagem escrita. De acordo com a médica, o distúrbio tem tratamento em todos os níveis, e é acompanhado pelo profissional fonoaudiólogo, pois estes tratam os distúrbios da comunicação em geral.

“É importante dizer que não conseguir se comunicar impacta grandemente a qualidade de vida dos pacientes. A comunicação é vital para o ser humano, quando ela está abalada ou afetada, os pacientes sofrem demais.”, afirma a profissional.

Em conversa, a coordenadora fala dos estudos sobre a afasia, as formas de tratamentos e dos recursos adaptativos para a comunicação do paciente.

“Alguns estudos internacionais mostram que de 15% a 40% dos pacientes que tem AVC apresentam afasia. E tem um estudo pioneiro aqui no Brasil que mostrou que 22%, talvez seja essa prevalência de pacientes que tenha AVC, têm afasia.”, conta a médica.

 

A médica conta que para a reabilitação do paciente, o tratamento se baseia em um mecanismo cerebral chamado Plasticidade Neuronal. Esta é a capacidade que o cérebro tem de se reorganizar, e de criar conexões novas para suprir o dano neurológico que afetou o paciente. Sendo assim, é ativada através da terapia fonoaudiológica. O grau de recuperação depende diretamente de alguns aspectos, como a idade do paciente, o tamanho da lesão, o local, e a intensidade do tratamento, sendo o tratamento precoce mais eficaz.

Ainda em entrevista, a fonoaudióloga conta sobre alguns estudos internacionais que mostram que ter afasia afeta mais a qualidade de vida do que pacientes que tenham câncer ou doença de Alzheimer, justificando a importância de ampliar o esclarecimento a respeito desses sintomas.  

“Quando a gente não conhece o que a gente tem, a gente nem sabe que pode ter tratamento. É preciso que as pessoas reconheçam.”

Confira entrevista completa no player acima. TAGS:  AFASIASAÚDEDISTÚRBIO NEUROLÓGICOFONOAUDIOLOGIA

Vazamento de dados, privacidade e vigilância sob a ótica da LGPD

Postado por José Adriano Pinto em 26 de Abril de 2021 às 10:33am

Por Camila Vilela, Christine Albiani e Ricardo Moura

Discussões acerca do tratamento de informações pessoais, temática que envolve a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (“LGPD”), vêm ganhando cada vez mais destaque, sobretudo, em decorrência dos megavazamentos de dados ocorridos nos últimos meses.

Na sociedade da informacional, a qual nos inserimos, dados e informações são considerados ativos extremamente valiosos e representam um combustível essencial para o desenvolvimento da economia digital. Isto porque eles servem de insumos para resultados empresariais cada vez mais eficientes e uma atuação governamental mais inteligente.

A popularização da internet, o advento do Big Data e o desenvolvimento da inteligência artificial (“IA”) são alguns dos pilares da sociedade contemporânea e, portanto, a proteção de dados pessoais se torna cada vez mais relevante à medida que a quantidade de dados criados e armazenados cresce exponencialmente.

Se, de um lado, é inegável a constatação dos avanços sociais e tecnológicos propiciados pelo tratamento de dados pessoais quando se transformados em informações são empregados para melhorias de processos na economia digital, de outro, é necessário observar que casos de abusos e violações de direitos à privacidade se tornam cada vez mais frequentes, sendo objetos de debates em ambientes acadêmicos, empresariais e governamentais.

Neste panorama, salienta-se a importância atinente à privacidade e proteção de dados pessoais no desenvolvimento das novas tecnologias e das atividades de organizações públicas e privadas, instalando-se um cenário de vigilância digital.

A LGPD com o intuito de suprir as demandas relacionadas à proteção da privacidade dos titulares de dados pessoais e o estabelecimento de diretrizes para um tratamento de dados legítimo, entrou em vigor em setembro de 2020.

Cumpre observar que a LGPD que contém princípios, direitos, obrigações, penalidades e responsabilização, possui ampla aplicabilidade, tendo em vista que toda e qualquer organização pública ou privada que trate dados pessoais deve se submeter às suas diretrizes, sendo o mero acesso ao dado pessoal já considerada uma operação de tratamento.

No início deste ano, o Brasil foi protagonista de escândalo envolvendo vazamento de dados pessoais de seus cidadãos. Foram vazados dados de 223 (duzentos e vinte e três) milhões de brasileiros, incluindo nome, CPF, data de nascimento, estado civil, gênero, e-mail, telefone, endereço, escolaridade, emprego, salário, FGTS, score de crédito, classe social e etc.

Definido como “vazamento de dados do fim do mundo” pelo especialista em direito digital Ronaldo Lemos – vez que todas essas informações podem agora estar à venda na deep web – na visão do pesquisador, “a partir de agora o Brasil se tornou também um faroeste digital”, pois “qualquer pessoa pode comprá-los, pagando com criptomoedas. Vai ser difícil reverter essa situação”.

O panorama atual da privacidade ocasionado pelo megavazamento de dados pessoais é verdadeiramente devastador e a conhecida comparação entre dados e petróleo adquire novos contornos. Afinal, além do aspecto econômico (já que dados transformados em informações aplicáveis representam valioso ativo econômico), ambos, uma vez vazados, causam danos em massa e irreversíveis.

O tratamento de dados pessoais possibilita hoje a customização e maior eficiência na oferta de produtos e serviços adequados à demanda específica do consumidor; a identificação de grupos de pessoas com mesmos interesses e afinidades; o atingimento de prognósticos e diagnósticos mais eficazes; a formulação de políticas públicas mais eficientes, direcionadas às necessidades mais urgentes da população; bem como, a possibilidade de alocação de serviços públicos conforme a demanda de determinadas localidades.

Além dos avanços obtidos com tratamentos de dados pessoais, existem problemas que devem ser enfrentados, como o aumento de fraudes e a questão da vigilância. Na sociedade atual, a informação seguida dos avanços tecnológicos modernizaram os mais antigos sistemas de vigilância, como por exemplo, os stingrays – aparelhos espiões que rastreiam celulares.

Neste contexto da vigilância com armazenamento e fluxo de dados, o escopo de privacidade e proteção de dados passa a ter uma dimensão coletiva, não servindo apenas à defesa de interesses individuais de personalidade, mas preocupando-se em proteger o interesse de categorias inteiras, que, no decorrer de séculos, foram marginalizadas.

Observa-se que a era da automação trouxe importantes progressos e novas dinâmicas aos operadores do direito, tornando mais célere a tramitação de processos com auxílio de bots e instauração do juízo totalmente digital. Ocorre que, em um quadro social onde decisões automatizadas revelam-se frequentemente mecanismos de injustiças, a tecnologia não pode assumir uma posição de neutralidade dos fatos.

Dessa forma, diante da constatação de situações absurdas que envolvem as novas tecnologias, como a identificação pela automatização de dados de individuals scapegoats (bodes expiatórios, em tradução livre) “propensos” à ação delituosa, implicando em restrições a direitos, há a premente necessidade de se tomar atitudes assertivas no sentido de evitar que novas violações aconteçam.

Sob este enfoque, destaca-se que sistemas tendenciosos de reconhecimento facial ganharam força durante a pandemia resultando em ilegalidades, violações e abuso de poder. Isto porque, ocasionalmente, ao realizar distinções, tais sistemas segregam minorias, que passam a ter suas características étnicas/identitárias reificadas pela IA e, dessa forma, ensejam uma arena de confrontos entre Estado, grandes empresas (detentoras do produto de IA) e movimentos de direitos humanos.

Importa aqui reforçar a noção acerca das tecnologias de vigilância digital: a primeira forma refere-se a sistemas de controle de circulação cotidiana de pessoas em espaços públicos por meio de tecnologias de reconhecimento facial (imagens captadas e cruzadas em bancos de dados), monitorando o direito de ir e vir. Dessa forma, algoritmos analisam diretamente a posição de status social, classe, raça e gênero, marginalizam segmentos específicos da sociedade, reproduzindo e perpetuando preconceitos e discriminações e invadindo os limites da privacidade e proteção de dados. Esses instrumentos de vigilância vêm se somar ao monitoramento (câmeras veladas) da internet (também chamado de “Controle das Redes”) que favorecem o mercado e grandes economias.

A vigilância digital exercida por empresas vêm adquirindo diversos contornos sociais, políticos e econômicos. Tais empresas passam a armazenar dados e comercializá-los através de meios informáticos de usuários, como forma de antecipar o comportamento (controle dos algoritmos) e processar as informações para as mais diversas finalidades. Neste cenário, a pandemia contribuiu de sobremaneira para a dialética corporativa da vigilância, sobretudo com os usuários mais conectados e a exponencial coleta, armazenamento e compartilhamento de dados pessoais.

Torna-se perceptível os importantes questionamentos para as relações sociojurídicas com relação à privacidade de dados e a não apropriação da perspectiva das diferenças pelo machine learning. Inobstante os dados coletados possam induzir em termos absolutos a uma tomada de decisão, esta não pode ser utilizada para perpetuar preconceitos e estigmas sociais, devendo haver elemento que neutralize esse efeito no sistema de inteligência artificial.

No campo trabalhista, bem como em outros setores, há formas contemporâneas de vigiar e punir (inspirando-se na filosofia de Foucault) conduzidas por algoritmos (inteligência artificial), através de câmeras com reconhecimento facial, drones (de rastreamento), base de dados pessoais e sensores. Exemplificativamente, critérios de seleção adotados por empresas para formulações de perfis comportamentais/estereotipados, tendo como determinantes fatores como gênero, raça, deficiência, agem em prejuízo às categorias de mulheres, a comunidade LGBTIQ+, etc.

O caso do Conselho Europeu, é um excelente exemplo de decisão que rejeitou o reconhecimento facial que era utilizado para o controle, demissão e avaliação de trabalhadores, isso porque essas formas de tecnologias apresentam vieses extremamente discriminatórios para o mercado de trabalho. Nesse enfoque, observa-se que há inúmeras denúncias a organismos internacionais de direitos humanos no que pese a sistemas de algoritmos enviesados, sendo que esses têm como alvo principal minorias étnico-raciais tornando-as mais vulneráveis e causando violações de direitos em massa.

A vigilância generalizada por parte do Poder Público e empresas realçam questões importantes sobre privacidade e proteção de dados. Quais os direitos dos titulares frente a usos indevidos de novas tecnologias? A utilização de sistemas de vigilância digital sem transparência, regulação e critérios definidos expõe dados sensíveis de trabalhadores, o que vem ocasionando, no Brasil, uma quantidade excessiva de reclamações trabalhistas, que buscam garantir o direito legítimo do titular dos dados previstos na Lei nº 13.709/18.

Outro caso emblemático foi a coleta de imagens de pessoas pela internet pela empresa de tecnologia de reconhecimento facial canadense Clearview que representou violação ao princípio da autodeterminação informativa, pois se utilizava desse mecanismo sem autorização do titular. A liberdade é elemento central da democracia, sendo uma sociedade da vigilância incompatível com o Estado Democrático de Direito. Nesse contexto, afirma-se que a apropriação de dados pessoais de indivíduos sem a observância dos princípios e diretrizes da LGPD, sobretudo, sem observar a transparência e finalidade legítima que justifique esse tratamento, é conduta condenável e que não pode ser admitida, sem restrições.

Com reflexos na ordem jurídica os sistemas de vigilância digital, perpassam também pelo aperfeiçoamento ético das tecnologias, pois revelam novos paradigmas de poder e controle social. Surge, então, aparatos tecnológicos cada vez mais sofisticados com o intuito de controlar comportamentos e corpos por meio sistemas de vigilância, dessa forma desrespeitando princípios constitucionais, com grandes prejuízos à liberdade e violações de direitos humanos. Hoje a vigilância/monitoramento espaciais e na internet de cidadãos representa um reforço ao poder Estatal e das big tech, com impactos devastadores para as democracias. Neste percurso, cabe destacar que o poder é exercido através da coleta de dados, sistemas que se utilizam de algoritmos (“IA”) potencialmente tendenciosos e estado de vigilância como eixos centrais para a discussão do vazamento de dados e LGPD.

O uso desenfreado de instrumentos de vigilância digital e sua aplicação nas mais diversas atividades cotidianas atentam contra o direito de locomoção, privacidade e intimidade. Na obra intitulada O Direito de estar só: tutela penal da intimidade, Paulo José da Costa Jr examina o escopo do direito à privacidade, liberdade de expressão, as restrições à intimidade, à honra, e sobretudo, a ausência de cautela para a utilização de dispositivos informáticos no Direito Penal.

Na afirmação categórica do eminente cientista da computação Demi Getschko as situações de vazamentos de dados mostram que a privacidade não existe mais. Ademais, o cenário da Covid-19 influenciou decisivamente na compreensão de “vida regulada”, com o aumento da vigilância e monitoramento. Na verdade, o que se vê na sociedade contemporânea é uma linha tênue entre público e privado, na qual sobressai o desaparecimento do espaço privado.

Surge daí a importância do acesso seguro à internet, com a aplicação de mecanismos de segurança da informação e compliance em proteção de dados pessoais, para evitar vazamento de dados e que estes possam vir a ser posteriormente capturados/manipulados pelas grandes corporações (como MicrosoftFacebook e WhatsApp) instaurando-se um estado de vigilância que pode afetar direitos individuais.

Nesse ponto, merece destaque as redes sociais, que publicizam cada vez mais detalhes da vida pessoal que antes se restringiam à esfera íntima do indivíduo, fazendo com que milhões de dados circulem pela internet e o crescimento da sua coleta, utilização e armazenamento seja exponencial. Para além da privacidade e da esfera íntima, a proteção de dados passa a ter sérios desdobramentos à construção da cidadania, operando para o rompimento de democracias não somente excluindo das decisões uma grande parte da população, mas por meio da restrição do acesso mínimo à informação sobre seus dados. A LGPD, portanto, representa um grande avanço em termos de regulação de novas tecnologias, sendo um desdobramento do Marco Civil da Internet que em 2021 completa 7 (sete) anos e corroborando com a proteção dos indivíduos com garantias no ambiente virtual.

A expansão de um maior fluxo de dados com a justificativa de pesquisas para a Covid-19 e execução de políticas públicas, demonstra o perigo da devassa da esfera íntima, e também torna possível uma maior vigilância e consequente prática de arbitrariedades pelo Poder Público, comumente implicando em exclusões e desigualdades alimentadas pelas fake news.

Clarificar aos titulares o fundamento de utilização de tecnologias baseadas em dados para vigilância, a forma de tratamento desses dados e que dados serão coletados, armazenados e compartilhados (e para quem) é papel fundamental para provocar mudanças sociais contrárias ao processo de reificação da cidadania e trazer dignidade e ética na implementação de novas tecnologias. Afinal, de nada valerá o progresso tecnológico se não vier acompanhado do da evolução do direito que tem como elemento norteador a proteção da dignidade da pessoa humana e o propósito de melhorar a vida das pessoas, necessitando-se, para tanto, salvaguardar direitos e garantias fundamentais, em qualquer esfera.

(estadao.com.br)

pausa: voltar à casa

HORDAS

Cansado
Voltar à casa
Cavar o chão
Com patas
E plumas plásticas de faisão

Ouvir com trito de ódio a voz do coração
Abrir saliente um buraco no paredão
Da gente que quer a minha castração
Na terra abunda um pus de cor marro

Agora
Na praia
Gritinhos
De hordas

Cansado
Voltar à casa
Cavar o chão
Com patas
E plumas plásticas de faisão

Ouvir com trito de ódio a voz do coração
Abrir saliente um buraco no paredão
Da gente que quer a minha castração
Na terra abunda um pus de cor marrom

Agora
Na praia
Gritinhos
De hordas

#213 – “Uma ENCOLHA muito difícil” – com Nada Tá Bom Nunca — Viracasacas Podcast

https://open.spotify.com/embed-podcast/episode/0oi4uocWKA8vqMziXBy8FM?si=4f5fOJr4SkS8ESeGfGgnJA

Tomodachi e no go aisatsu! Nesse episódio do Viracasacas trazemos os incríveís Vitor Santi (@vtrsanti), Moara Juliana (@moarajuliana) e Bruno “Tucho” Ferreira (@badgesucks), criadores e hosts do podcast Nada Tá Bom Nunca – carinhosamente conhecido como NTBN. Colocamos fogo no boteco e falamos sobre os estranhos acontecimentos da semana passada: da mansão do Flavinho Bolsonaro […]

#213 – “Uma ENCOLHA muito difícil” – com Nada Tá Bom Nunca — Viracasacas Podcast

A cientista que curou seu próprio cérebro – Jill Bolte Taylor

QUARENTA COISAS DE QUE EU MAIS PRECISAVA

  1. Não sou estúpida, estou ferida. Por favor, respeitem-me.
  2. Chegue perto, fale devagar e pronuncie as palavras com clareza.
  3. Seja repetitivo. Presuma que eu não sei nada e comece do início, muitas e muitas vezes.
  4. Seja tão paciente comigo na vigésima vez em que me ensinar alguma coisa quanto foi na primeira.
  5. Aproxime-se de mim com o coração aberto e controle a ansiedade. Não tenha pressa.
  6. Tenha consciência do que sua linguagem corporal e expressões faciais estão comunicando para mim.
  7. Faça contato visual comigo. Estou aqui; venha a meu encontro. Incentive-me.
  8. Por favor, não levante a voz. Não sou surda, apenas estou ferida.
  9. Toque-me apropriadamente e faça conexão comigo.
  10. Respeite o poder de cura do sono.
  11. Proteja minha energia. Nada de locução de rádio, televisão ou visitantes nervosos! Peça às visitas que sejam breves (cinco minutos).
  12. Estimule meu cérebro quando eu tiver energia para aprender algo novo, mas saiba que uma pequena quantidade pode me esgotar rapidamente.
  13. Use ferramentas educacionais apropriadas (pré-escolares) e livros para me ensinar.
  14. Apresente-me ao mundo sinestesicamente. Deixe-me sentir tudo. (Sou uma criança novamente.)
  15. Use comportamentos de imitação para me ensinar.
  16. Acredite, estou tentando. Apenas não no seu nível de habilidade e no seu tempo.
  17. Formule questões de múltipla escolha. Evite perguntas cujas respostas sejam sim/não.
  18. Formule questões que tenham respostas específicas. Dê-me tempo para procurar a resposta.
  19. Não avalie minha habilidade cognitiva pela velocidade com que posso pensar.
  20. Lide comigo com delicadeza, como faria com um recém- nascido.
  21. Fale comigo diretamente; não fale sobre mim com os outros, como se eu não estivesse ali.
  22. Incentive-me. Espere que eu me recupere completamente, mesmo que leve vinte anos!
  23. Acredite que meu cérebro possa continuar aprendendo sempre.
  24. Fragmente todas as ações em pequenos passos de ação.
  25. Verifique que obstáculos me impedem de alcançar sucesso em uma tarefa.
  26. Esclareça para mim qual é o próximo nível ou passo para que
    eu possa saber a qual objetivo estou me dirigindo.
  27. Lembre-se de que tenho de ser proficiente em um nível de função antes de poder me mover para o nível seguinte.
  28. Comemore todos os meus pequenos sucessos. Eles me inspiram.
  29. Por favor, não termine minhas frases nem forneça as palavras que não consigo encontrar. Preciso exercitar meu cérebro.
  30. Se não consigo encontrar um arquivo antigo, crie um novo para mim.
  31. Posso querer que você pense que entendo mais do que realmente entendo.
  32. Foque o que eu posso fazer, em vez de lamentar aquilo de que não sou capaz.
  33. Apresente-me à minha velha vida. Não presuma que, porque não posso mais tocar como antes, não vou apreciar um instrumento, ou música em geral.
  34. Lembre-se de que, na ausência de algumas funções, conquistei outras habilidades.
  35. Mantenha-me à vontade com a família, os amigos, e me dê apoio emocional. Construa um mural de cartões e fotos que eu possa ver. Identifique-os para que eu possa revê-los.
  36. Convoque as tropas! Crie uma equipe de cura para mim. Mande notícias a todos de forma que eles possam me mandar amor. Mantenha-os informados sobre minha condição e peça-lhes que façam determinadas coisas para me ajudar, como me visualizar conseguindo engolir com facilidade ou balançando meu corpo até me sentar sozinha.
  37. Ame-me pelo que sou hoje. Não me faça ser a pessoa que fui antes. Agora tenho um cérebro diferente.
  38. Seja protetor, mas não se ponha no caminho do meu progresso.
  39. Mostre-me velhos vídeos nos quais eu apareça fazendo coisas que me lembrem como eu falava, caminhava e gesticulava.
  40. Lembre-se de que minha medicação provavelmente me faz sentir cansada, e também mascara minha capacidade de saber como é me sentir eu mesma.

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A ELITE DO ATRASO – DA ESCRAVIDÃO À LAVA-JATO – JESSÉ SOUZA

Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais

Print version ISSN 1517-4115On-line version ISSN 2317-1529

Rev. Bras. Estud. Urbanos Reg. vol.20 no.3 São Paulo Sept./Dec. 2018

https://doi.org/10.22296/2317-1529.2018v20n3p591 

RESENHA

Jessé de Souza – A elite do atraso: da escravidão à Lava-Jato: À guisa de um debate1

Cibele Saliba Rizek* 
http://orcid.org/0000-0002-7871-5730

*Universidade de São Paulo, Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo, São Carlos, SP, BrasilSouza, Jessé de. A elite do atraso: da escravidão à Lava-Jato. Leya, Rio de Janeiro: 2017.


Para a compreensão do livro e das questões colocadas por seu autor, é imprescindível ressaltar sua natureza. Trata-se de um ensaio, isto é, arranjam-se ao longo do texto aproximações sucessivas entre o sujeito da narrativa e seu objeto: a tentativa de reler as matrizes históricas e as relações sociais brasileiras ainda em operação, o que se ilumina a partir da urgência de interpretar o Brasil contemporâneo pós-golpe de maio de 2016. Como todo ensaio, o livro de Jessé de Souza busca uma nova interpretação para a história e o presente brasileiros por meio de idas e vindas entre a afirmação de uma posição e um passeio que unifica objetos diferentes entre si. Misturam-se objetos que se encontram dispersos por campos ou subcampos do conhecimento como uma “sociologia histórica”, uma reflexão sobre o pensamento social brasileiro, uma sociologia política que busca interpretar a um só tempo o golpe e algumas de suas versões, uma sociologia da mídia e da comunicação.

A discussão do cenário brasileiro pós-golpe de 2016, a urgência de compreendê-lo à luz das matrizes que constituíram modos de dominação que desenham a sociabilidade política brasileira é, sem dúvida, um dos méritos do texto. Trata-se de um livro ousado e, nesse caso, a ousadia pode ser considerada uma virtude porque põe em xeque interpretações do Brasil bastante consagradas, embora se possa perguntar se a questão central do argumento é a matriz interpretativa original desenhada pelos intérpretes do Brasil nos anos trinta ou os usos posteriores que foram feitos dela.

A pergunta ancora-se no fato de que o autor trava um conjunto de críticas à noção de patrimonialismo e suas reverberações que se estendem – sempre de acordo com Souza – até nossos dias, como chave explicativa para o Brasil. Em seu lugar, na interpretação do autor, ganha centralidade a questão da escravidão e, com muita ênfase, sua continuidade. Destaca-se a proposição de uma leitura do Brasil a partir de sua estrutura de classes, pelo menos a partir de uma certa concepção – bastante própria – dos sentidos atribuídos à classe e a seus modos de conformação e relação. Dessa perspectiva, ao buscar investigar a estrutura da sociedade brasileira, é curioso que Souza nomeie apenas o que, a partir de Gramsci, possa ser reconhecido como classes subalternas – essas sim, ao longo do texto, perfeitamente reconhecidas como classe. Ora, como as classes não existem senão em relação e luta umas com as outras, o reconhecimento e nomeação dos trabalhadores como classe empobrece-se nas suas relações com as camadas sociais nomeadas como elites. Nessa análise a partir da estrutura de classes, não se desenham classes dominantes, nem se esboça uma leitura da constituição sempre problemática de uma burguesia brasileira – jamais nomeada como tal, já que o polo que detém em suas mãos o exercício da exploração e da dominação, isto é, o exercício do poder, aparece como elite ou elites: elite do atraso, elite do dinheiro.

Patrimonialismo como alvo

Nesse feixe de idas e vindas, em um vendaval de interpretações – cuja leitura é cheia de novos ângulos de análise e por isso, singular e polêmica – alguns meandros necessitam esclarecimentos, aprofundamentos, discussões que, ao que parece, foram deixadas para trás pela urgência de análise do momento brasileiro pós-golpe. Talvez a primeira dimensão das discussões propostas por Jessé de Souza seja uma certa indistinção entre a necessária discussão do patrimonialismo como chave explicativa e o lugar de sua formulação inicial e de suas apropriações, das mais clássicas às mais recentes.

Jessé de Souza salva Gilberto Freyre dele mesmo e ataca frontalmente a contribuição de Sergio Buarque de Holanda. Utiliza-se sobretudo das apropriações e interpretações das contribuições do autor e acaba por se restringir apenas a um dos clássicos escritos por Buarque de Holanda, talvez sua obra mais célebre e mais conhecida: Raízes do Brasil. Mesmo assim, a ideia central explorada por Souza é a de patrimonialismo, já que a noção de cordialidade ou de homem cordial não chega de fato a ser discutida. Assim em A Elite do Atraso, a combinação e o emaranhado entre proximidade, violência e desrespeito à integridade do outro, como uma das matrizes da sociabilidade e da sociabilidade política brasileira, perdem nitidez em favor do patrimonialismo. Também chama a atenção dos leitores familiarizados com as matrizes do pensamento social brasileiro a ausência de diálogo com contribuições de outros intérpretes – por exemplo Ricardo Benzaquén de Araújo e sua interpretação de alguns dos temas presentes no livro de Souza, entre os quais Guerra e Paz – Casa-grande & Senzala e a Obra de Gilberto Freyre nos Anos 302, texto dos anos noventa que provocou e matizou a releitura da obra como um clássico indispensável para a compreensão do Brasil.

Souza elegeu claramente um alvo crítico – o patrimonialismo – e um eixo de explicação do Brasil e de suas relações sociais – a centralidade e continuidade da escravidão e do efeito escravidão que se estende até os nossos dias. Não se trata, portanto, de encarar e compreender as relações entre classes dominantes e Estado na chave do “patrimonialismo”, não se trata de destrinchar analítica e politicamente as formas de indistinção entre interesses do capital, conglomerados empresarias e Estado, mas de perceber as relações entre classes como uma forma de sociabilidade presa à escravidão, como forma de dominação que traz a marca da desumanização, criminalização, culpabilização da pobreza e, claro, de sua naturalização insidiosa. Nessa matriz de redução das relações de classe à sobrevivência da escravidão e de redução das formas de dominação entre elites e classes dominadas, o patrimonialismo e alguns de seus mais ilustres intérpretes tornam-se, no âmbito do livro, herdeiros do … racismo culturalizado. Até mesmo Florestan Fernandes – fundador da sociologia paulista e brasileira – aparece como refém da teoria da modernização que o teria impedido de ver que a pobreza e a exclusão que marcam a estrutura de classes no Brasil não foram – e não são – passageiras. Florestan Fernandes, na interpretação de Souza, estaria preso a uma visão marcada pela modernização e não teria percebido a opacidade do manto moral da ordem social capitalista, tal como o livro aponta entre as páginas 73 e 79. Também aqui trata-se de uma questão que se vincula apenas a uma parte da extensa obra de Florestan Fernandes, especificamente A integração do Negro na Sociedade de Classes3. Passa-se ao largo de outras contribuições essenciais para pensar o que autor nomeia como elites do atraso no Brasil, como por exemplo as considerações a respeito da Revolução Burguesa4, obra que encerra o ciclo das grandes interpretações do Brasil, discutindo o modo de dominação burguesa e, consequentemente, a estrutura de classes e de governo do país, no quadro do que Fernandes denominou como modelo autocrático burguês de “democracia restrita” que teria marcado a política brasileira ao longo do século XX. Dessa perspectiva, discutir a “elite do atraso” implicaria em discutir as formas do poder, a autocracia da dominação burguesa evidenciada pelo golpe de 1964, tal como fez Florestan Fernandes no momento de conformação da ditadura militar no Brasil.

A partir de uma associação no mínimo questionável entre patrimonialismo, moralismo e racismo culturalizado, Jessé de Souza acaba por aproximar e distinguir intelectuais supostamente orgânicos, pertencentes aos seus tipos de classe média: Dallagnol, que personifica o moralismo protofascismo das manifestações verde amarelas e da Lava Jato; o ministro Luiz Roberto Barroso – caso exemplar da “ classe média de Oslo”, que vive como se o contexto sócio-econômico do país fosse supostamente civilizado e abastado como a Noruega; e Fernando Haddad, graças a seu texto na revista Piauí, publicado em junho de 2017 5.

Por que essas aproximações – por vezes chocantes – precisam comparecer nesse ensaio de interpretação? Trata-se da montagem de uma estratégia. Nessa montagem importa menos o enfrentamento da discussão intelectual e acadêmica – que não pode e não deve ser desqualificada ou contraposta à discussão política – do que uma demonstração que decorre de uma crítica um tanto rasa da noção de patrimonialismo, identificada ao moralismo de frações das classes médias e ao racismo que resulta da manutenção das formas sociais e simbólicas atreladas ao passado escravocrata. A noção de patrimonialismo lida a partir dessas aproximações pouco usuais, que carecem de análise textual e conceitual mais rigorosa, passa a ser sinônimo do que Souza nomeia como “viralatice” brasileira, desqualificação de certo modo unânime e dominante, já que perpassa as posições de esquerda e de direita, contribuindo para tornar opacas e invisíveis as matrizes estruturantes das relações sociais no país. O que dizer dessa estratégia? Como interpretá-la recuperando o lugar da discussão e do diálogo que marcam, ou pelo menos deveriam marcar, a vida universitária e acadêmica? Diante dos ataques às universidades públicas brasileiras, a quem serve a ideia de que a discussão acadêmica se contrapõe à discussão política, reeditando a tese das torres de marfim isoladas do mundo real?

No âmbito do que se pode identificar como estratégia discursiva, Jessé de Souza elegeu alguns de seus adversários. Entre eles, ganha destaque a Universidade de São Paulo, como se pode ler na página 131.

“A USP foi criada por essa mesma elite desbancada do poder político, e pensada como a base simbólica, uma espécie de think tank gigantesco do liberalismo brasileiro a partir de então. E também desse projeto bem urdido de contrapor a força das ideias generalizadas na sociedade contra o poder estatal desde que este seja ocupado pelo inimigo político à época representado por Getúlio Vargas. Sergio Buarque é menos o criador e mais o sistematizador mais convincente do moralismo vira-lata que irá valer, a partir de então, como versão pseudo crítica do país acerca de si mesmo. Como o Estado corrupto passa a ser identificado como o mal maior da nação, a elite do dinheiro ganha uma espécie de carta na manga que pode ser usada a partir de então sempre que a soberania popular ponha, inadvertidamente, alguém contrário aos interesses do poder econômico. A partir desse eixo intelectual eivado de prestígio, essa concepção se torna dominante no país inteiro. Isso não significa dizer que a USP não tenha produzido coisa distinta do liberalismo conservador das elites”, como Florestan Fernandes, representante de “tendências dominadas e distantes dos mecanismos de consagração.” Mesmo assim, até mesmo Florestan Fernandes, como se lê na página 132, teria “assimilado aspectos importantes da tradição conservadora elitista”.

A eleição de um inimigo faz-se a partir dos mesmos mecanismos de redução que permitem a leitura de Sergio Buarque de Holanda e de Florestan Fernandes a partir, respectivamente, das Raízes do Brasil ou de A Integração do Negro na sociedade de Classes. Desaparecem dos quadros da universidade de São Paulo contribuições de autores de diferentes gerações como Antônio Cândido, Roberto Schwatz, Paulo e Otília Arantes, Otávio Ianni, Paulo Singer, Francisco de Oliveira, Marilena Chauí, Ermínia Maricato, Raquel Rolnik, Nabil Bonduki, Leda Paulani, e tantos de nós. Essa visão é tão mais perigosa quanto mais acaba por se somar à desmontagem rápida e arrasadora de um projeto d e ensino público de qualidade, quanto mais se agrega à investida de desqualificação das universidades públicas brasileiras, inclusive da USP e de suas forças vinculadas ao pensamento crítico tão importante para a reflexão sobre o Brasil, que parecem demonstrar que esta universidade, tal como todos os outros centros onde a reflexão sobre o país ainda é possível, estão em disputa há algumas décadas.

Se o tratamento de Souza a Raízes do Brasil ignora o fato de a obra ter sido escrita em 1936, ou ainda o fato de que A Integração do Negro na Sociedade de Classes tenha sido publicada em primeira edição em 1964, o registro de nascimento da USP em 1934 parece contaminar toda sua história. A Universidade de São Paulo, também nomeada como Universidade da Comunhão Paulista6, foi um projeto que guarda ainda a marca do interventor do Estado, nomeado por Getúlio Vargas para implementá-la. Trata-se, portanto, de um projeto afinado com o Governo Vargas cuja “vocação liberal” parece ser apenas parte de um mito no qual Souza parece acreditar sem maior precisão factual ou bibliográfica.

Finalmente, cabem algumas considerações a respeito do que Souza qualifica como economicismo da leitura das classes no Brasil. É certamente importante perceber e desenvolver as dimensões não econômicas da formação das classes no Brasil. Sem dúvida as dimensões relativas aos processos de socialização, à experiência de classe, à distribuição profundamente desigual dos equipamentos e recursos educacionais, aos bairros e às formas de segregação urbana são constitutivos da profunda desigualdade brasileira, tributária, de acordo com o autor, da matriz histórica da escravidão. Mas há algo de fortemente contemporâneo nos modos de pensar a base da pirâmide brasileira e há, aí também, elementos transversais cuja discussão é urgente. Dessa perspectiva, pode-se mencionar três nomeações bastante atuais, diversas entre si e, ao mesmo tempo, passíveis de serem aproximadas: a ralé brasileira (Jessé de Souza)7, a recuperação da ideia de subproletariado8 (André Singer) e o uso da ideia de precariado9 (Ruy Braga) que apontam para um fenômeno que persiste demandando discussão teórica e política: a nomeação e caracterização dos que estiveram e ainda estão, hoje de modo redefinido, fora dos limites do assalariamento formalizado ou do que Santos chamou de cidadania regulada10. Por outro lado, quando é necessário dar conta dos fenômenos contemporâneos no Brasil, Jessé de Souza lança mão das noções fortemente vinculadas às noções provenientes da economia e da economia política tais como financeirização, toytorismo, flexibilização do trabalho, desenhando um quadro em que a grande mídia aparece como “a roupagem de um capitalismo selvagem” (página 217). Ora, esse quadro é econômico, social, político e simbólico. Haveria, então, novas forças estruturantes que produziram trabalhadores distantes da experiência fabril, da dimensão passível de ser aglutinada por sindicatos, da experiência do trabalho coletivo. Mas é inegável que há, na transição do fordismo para um capitalismo pós-fordista, uma transformação do trabalho e de seu uso, uma fragmentação dos trabalhadores e de sua experiência, novas matrizes simbólicas que trazem o empreendedorismo e o empreendedorismo de si como virtude. Nesse sentido – há uma nova ralé produzida por esse momento, ou os novos/velhos escravos são os indivíduos abandonados desde a escravidão? Quais os vínculos entre ralé (ou subproletariado ou ainda precariado) e o lulismo? Seria possível perceber nos governos do Partido dos Trabalhadores e naquilo que se pode identificar como lulismo como uma de suas mais significativas vitórias dessa mesma ralé?

Talvez seja possível afirmar, com Braga, que desses novos escravos, dessa ralé, pode depender a abertura da porta de saída da situação de indeterminação e exceção na qual o país se encontra pós-2016 – na continuidade insidiosa do golpe que perdura, fato após fato, por meio do 24 de janeiro de 2018 (condenação e extensão da pena de Luis Inácio Lula da Silva) por meio da intervenção militar no Rio de Janeiro, por meio da morte até hoje não esclarecida de Marielle Franco, da prisão de Lula e na porosidade e dissolução das fronteiras entre os poderes que deveriam conformar o governo do país. A exceção radicaliza-se na exacerbação do que Souza denominou “corrupção dos tolos” em contraponto à corrupção real.

Finalmente, à guisa de uma reflexão e de um debate da maior significação para a compreensão das relações de classe e suas expressões políticas no Brasil, pelo menos duas perguntas poderiam ser formuladas. A primeira diz respeito a uma ênfase posta na continuidade e não nos pontos de inflexão e transformação da estrutura de classes no Brasil. A matriz produzida pela escravidão e não pelas formas e usos do trabalho assalariado e não assalariado seriam o fundamento da explicação e da análise social e política formulada no livro de Souza. Aqui talvez caiba mais uma vez uma observação sobre o “homem cordial” tal como aparece nas formulações de Sérgio Buarque de Holanda, lembrando que proximidade e violência real e simbólica se irmanam na destituição e assimilação da alteridade, na destituição de seu lugar de ação e de fala, na permeabilidade dos corpos passíveis de punição, invasividade e aproximação carnal.

A segunda diz respeito às relações entre as classes como perspectiva política11: pode-se dizer que foi dessas relações que teria nascido a grande experiência que teria dado origem ao Partido dos Trabalhadores, nos anos 80 do século XX. Mas reconhecer o solo e a significação dessa experiência não basta. É preciso pensar séria e criticamente o que aconteceu entre 2003 e 2014/15. É preciso enfrentar essa discussão e esse desafio para compreender o momento de indeterminação e exceção em que vivemos. É preciso entender como foi possível o crescimento e visibilização do ódio de classe que vêm dominando os modos de legitimação desse golpe que se arrasta e se aprofunda desde então. De certo modo, talvez esse seja o pecado de Haddad – ter tocado nas dimensões críticas do período lulista. Tinha razão? Não sei. Mas certamente foi um ato de coragem, assim como as contribuições que buscam encarar o desafio de compreender os vínculos entre o lulismo, sua erosão e a exceção que vem se aprofundando no país.12

Dessa perspectiva, promover o debate sobre a contribuição do livro A Elite do Atraso nesse momento de investida contra universidade pública brasileira e das tentativas insidiosas de destruição do país é da maior relevância porque é preciso poder reinventar o diálogo e a crítica, estimulando e promovendo a possibilidade da igualdade onde ela parece ter sido suprimida em nome do esforço individual, da generalização da forma empresa, dessa nova racionalidade13 que perpassa relações sociais e políticas. O diálogo e a crítica sobre os anos de governo do Partido dos Trabalhadores, os anos da invenção e consolidação do lulismo, podem auxiliar ainda a compreender como se produziu essa “exceção que virou regra geral”14. Dessa perspectiva, a estratégia ousada de Jessé de Souza, inclusive a de eleger focos e alvos de combate, deve ser enfrentada criticamente, abrindo os caminhos de discussão e politização dentro e fora da vida acadêmica, combatendo o encolhimento da crítica, o enorme rebaixamento da reflexão, a necessidade de se contrapor ao desmanche de instituições, direitos, espaços de conflito e de discussão públicas, em suma, dos lugares de resistência acadêmica e política, onde ainda se poderá enfrentar a urgência de pensar e reinventar o país.

Essa resenha/comentário foi originalmente escrito a convite da Profa. Dra. Nilce Aravecchia, da FAU/USP, para um debate realizado naquela unidade em março de 2018. Participaram do debate, para o qual preparei esse texto, o Professor Dr. Jessé de Souza e a Profa. Dra. Leda Paulani.

2ARAÚJO, Ricardo Benzaquém. Guerra e Paz – Casa-grande & Senzala e a Obra de Gilberto Freyre nos Anos 30. Editora 34, Rio de Janeiro, 1994.

3FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. 3. ed. São Paulo: Ática, 1978.

4FERNANDES, Florestan. A Revolução Burguesa no Brasil, Ensaio de Interpretação Sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1974

5Ver HADDAD, Fernando. “Vivi na pele o que aprendi nos livros. Um encontro com o patrimonialismo brasileiro” in Revista Piauí, Junho de 2017.

6Ver a esse respeito CARDOSO, Irene. A Universidade da Comunhão Paulista (O projeto de criação da Universidade de São Paulo). Cortez Editora, São Paulo, 1982. A autora afirma na página 17: “O que causa surpresa é verificar que persiste o mito liberal-democrático de criação da Universidade. Com ele, escamoteia-se que foi criada sob a ditadura Vargas, quando Armando de Salles Oliveira era interventor federal em São Paulo, nomeação que foi obtida através do compromisso com o ditador de que manteria o Estado distante das articulações revolucionárias que estavam em andamento.”

7Ver SOUZA, J. A Ralé Brasileira. Editora da UFMG, Belo Horizonte, 2009.

8Ver SINGER, A. Os Sentidos do Lulismo. Reforma Gradual e Pacto Conservador. Cia das Letras, São Paulo. 2012.

9BRAGA, R. A Política do Precariado: do populismo à hegemonia lulista. Ed. Boitempo, São Paulo, 2012.

10Ver SANTOS, W. G. Cidadania e Justiça: a política social na ordem brasileira, Rio de Janeiro, Ed. Campos, 1979.

11Ver Weffort, Francisco. O populismo na política brasileira. Ed.Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1978. Em relação à noção de populismo é preciso abrir um parênteses para afirmar que a proposta de Weffort, ao contrário do que afirma Souza, não diz respeito à passividade dos trabalhadores ou das massas. A questão central da análise de Weffort é muito mais a da ambiguidade das posições políticas “populistas”, leia-se do PTB, no chamado momento democrático, anterior à instalação da ditadura militar no Brasil.

12Ver SINGER, A. 2012 op. Cit. SINGER, A. e LOUREIRO, I. As contradições do lulismo. A que ponto chegamos? Boitempo, São Paulo, 2016. SINGER, A. O lulismo em crise. Cia das Letras. São Paulo, 2018.

13Cf. DARDOT. P. e LAVAL, C. A Nova Razão do Mundo. Ensaio sobre a sociedade neoliberal. Boitempo, São Paulo, 2016.

14Referência à frase de W. Benjamin em “Teses sobre o Conceito de História” in BENJAMIN, W. Obras escolhidas. Vol. 1. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 222-232.

Cibele Saliba Rizek possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1972), mestrado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1988) e doutorado em Sociologia pela Universidade de São Paulo (1994). Atualmente é professora do Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU/USP) e pesquisadora do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania, também da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Sociologia, atuando principalmente nos seguintes temas: cidades, reestruturação produtiva, habitação, espaço público e cidadania. Email: cibelesr@uol.com.br.

4173. Autopia

Pela criptografia dos vazios e dos unos
a mensagem estanca a utopia,
o meio pelo qual vaza o devir.

Desagrega o código
e ressuscita o mensageiro
morto em combate:

Lá detrás dos oceanos,
por debaixo das profundezas,
engendra o casulo do conforto
concha polimorfa em que tudo cabe
vazia e una.
O dourado é intermediário
entre nascer e morrer
e lá se instaura o quimérico,
seu antimeridiano reluz o intermédio
em plena escuridão.
Seu brilho disfarça o negrume.
Entre poente e nascente
é dia e noite,
dentro da luz, depois da luz.
O infindável que margeia
onde estaremos,
planta betuminosa que fornece
a luz em sua carne
e cerne das cores que carneiam
a vida,
é morte.
Não há norte ou sul,
há circunferência e expansão.
 

Não se engane, o azul do céu é negro.
Nosso não lugar.

4171.

(43x² – 22747)º
era o dia da prisão
minto que está tudo bem
benzo o banzo pra ser bom
bombeio o sangue na veia ainda
dano-me a desdizer o todo
to dolorido de tanto deitar
ar me falta nessa parede
rede me enlaça virtual e físico
zico a praga pra ver se ela se move
vejo além do horizonte emoldurado
doo meus bens a quem passa fome
me meto num buraco escuro
curo as chagas que se expõem
põem claustro as ordens governamentais
tais lendas serão lembradas se eu me for
formam concreto os pensamentos que não param
ramos de arruda ajudariam na imunização
ação inerte que se espatifa entre paredes pra onde vim
vinte e três dias passados
dos que ainda virão.

4169. Azara, a trust

Depois de sair das
diatribes ditadas
de dentro de mausoléus
infecundos

brotou antigona
das antiga mesmo

no tempo do mistério
em Göbekli Tepe

erguendo linguagens
de pedra
sem lavra, lastro ou pasto

brotou no bruto
do deserto

desterrada pois que
tudo era da terra
e ela dela
nada em contrário.

Ela, Azara,
que abandonou a modernidade.

4167. Do aproveitamento do mito

“Ninguém se ilumina imaginando figuras de luz.”

Dissolver as partes
asquerosas é tarefa
que redunda tempo
e luz por dentro das
entranhas.

O tempo de observar
o pútrido que secretas
em segredo como
pus a explodir pela
superfície da epiderme.

E ardente interno
ferver as seivas
doloridas que não
tem espaço de circulação
e que entopem veias
e artérias.

O tempo é de se
apoderar do mistério
da negação
iluminando as trevas
para que sejam trevas
tornadas trovas
diante do avolumado
do mundo.

Vai com medo mesmo
que ele te habita.

4166. Semiótica semiológica

o sinal é o sintoma
a linguagem inscrita
na falta de ar
na seca do mar
de se adentrar

antes mesmo de ser
quase vida
o além tátil
de um componente
dado informacional

já matava

camada fina invólucro
agora
de gota em gota
transpassante

viralizava

era feito de homens
e mulheres feitas em homens
e se disseminava
e se dissipava como
dente, em vento, de leão

efêmero e destruidor

o sintoma já era
um gélido calor
na ponta dos dedos
irradiando um gelo
do porvir
polvilhando de agoras
uns amanhãs incertos

arrasador

não via destinatário
quem já posto às
raias de alvorecer ao fim
da segunda guerra mundial
ou quem nativo
das nações dos dedos
desse particular alvorecer
dos novos mil
cem
dez
e de quem entre booms
x
y
z
e o big-bang que virá
numa invertida

cômico

sardônico e sádico
já era viral
era virótico
na base do virote
de gole em gole
míseras combinações
pixelares e pulsares
lacrava-se ao inverter-se

intratável

acometia tudo que tivesse
cérebro
e se instaurava
no caminho do meio
entre o afã e o desejo
no pulso do peito
causando fadiga
e perda do tônus do tesão

paumolente

ainda não era microscópico
era também
mas imagético ao extremo
assassinava primeiro
a reputação
e pulsava anseios
de voar em linha reta
da sacada até o asfalto

mutante

2.0 e beta
teste e testa
besta e fera e besta
nunca bastava
e ao final do primeiro
ano do final enfim
o milênio do agora vai
e do agora volta
– reungido e cordeiro confinado –
matou-se a si ressuscitado
e mutou-se em vírus real

já era viral
agora
voraz vai

numa simbiose bioeletrônica

4164.

Meu corpo pode ser
uma bomba viral,
certamente é uma
bomba semiótica,
ainda uma fonte
de disparos seminais

eu, um ciborgue
de matéria indefinida,
um amontoado binário
proteico, etéreo e material
eletrodo

minha determinação real
desmaterializa-se
em dados e vírus

eu, trago o gérmen do futuro

traço no escuro

e urro

O antiprojeto (sem referências bibliográficas)

Não é um antes do projeto, é um anti, contra, não projeto. As coisas se apresentam para nós como uma projeção do que virá e não como as são. A quantidade de projeções que fazemos nos coloca em conflito constante com o que é. Projetamos casas, sociedades, sistemas produtivos, casamentos, amizades, festas, orgias, economias, celibatos, mortes, democracias, vidas, ditaduras, após mortes, pré vidas, deuses, florestas, pessoas, ecossistemas, amores, vírus, ódios, doenças, ruas, computadores, redes, famílias, passados, futuros. Projetamos. E nos lançamos nesse mundo de projeção como se o que nos constituísse fosse o próprio projeto, o ideal, o vislumbre do cenário posterior. A vida se dá numa ponte constante entre a imperceptibilidade do agora e o anseio pelo vir a ser. Neste momento a coisa vindoura não tem forma, nem matéria, nem sensibilidade, nem existência, mas já se apodera de nós como se fosse algo presente e com tal intensidade que rouba a própria existência do agora. Eu faço o que faço agora, porque algo virá para lhe validar: o respeito, o reconhecimento, o pagamento, o gozo, o sucesso, o fracasso, o desalento, a destruição, o renascimento, a dívida. Mas o que virá, quando vem, se transforma em novo momento não vivenciado, apenas ponte para o que virá novamente a partir daquilo que veio e que, quando vivido, não se transformou em presente, mas em momentâneo passado, impreciso já, desforme, projeto do que foi, projeção. Ideia. É ela que funda esse virá constante, tudo como um escopo desejado ou não desejado mas esperado, projetado. Fiz merda, logo irei me foder. Premissa básica. Mandei bem, logo irei prosperar. Premissa ansiada. Mas tudo no passado: fiz. Pode ser colocado de outro modo: estou fazendo merda, logo irei me foder. Ou estou mandando bem, logo irei prosperar. Mas estar algo é deixar ao algo uma condição de não existência por si, em si, no agora. Faço merda e a vivo agora, enquanto merda existente, em mim, por mim. Mando bem e o vivo agora, enquanto o bem existe, em mim por mim. Equação de difícil consistência nesse quadro histórico. Por quê? Porque tudo agora é demais, a mais, sobra. Multitarefa, multipresença, hiper-conectividade, superestímulo. A composição do que fazemos e do que nos faz é de tal ordem que a identificação é quase nula. Quanto mais variáveis a equação, menor a possibilidade de resolução a um mero humano. Variáveis de toda ordem ainda se aglutinam e complexificam: materiais, biológicas, emocionais, sensoriais, históricas, ideológicas, sociais, culturais, mentais, cognitivas, espirituais. Certo que desde sempre estiveram todas imiscuídas, mas entre ter um ou dois exemplares de uma ordem de variável qualquer é diferente de ter vinte, trinta exemplares enfiados um por cima, ao lado e embaixo dos outros. Onde sobra espaço para observar cada ordem? Quiçá para observar a necessária desordem do caos que nos compõe? É tudo uma aleatoriedade imprevisível. Mas buscamos um cosmos. Não no agora, mas no que projetamos enquanto substrato de ordenação. Da inadequação aparente e sensível entre o que se compõe o agora – caótico – e o cenário idílico ou turvo do virá, emerge um lugar mais ameno do que a profusão do momento presente, uma utopia, um não lugar: o projeto: quando eu acabar isso… tão logo eu consiga aquilo… no dia em que eu fizer algo… onde tudo acabará… assim que estragar tudo… É confortável, te exime do agora, te lança para a utopia, preconcebida, imaginada, intangível, feérica, leviana, horrível, seja lá qual é o seu mote de expectativa interposto entre o imprevisível e o compreensível. É uma questão de segurança. Estamos em uma savana, cem mil anos atrás, um exemplar da espécie humana recém inaugurada sente medo – algo inerente, trabalho esmerado de milhões de anos de apuro evolutivo para a manutenção genética –, um barulho fez-se ao lado vindo do alto de uma árvore, ele treme, ela treme, um leopardo? espinha ereta a percorrer correntes elétricas de taquicardia. Um babuíno, apenas. O corpo relaxa, os músculos descontraem. Alívio. Segurança. Anos de apuração visual, olfativa e auditiva depois, acúmulo e mais acúmulo de experiências e o resultado: a segurança do controle da situação à identificação do leopardo real. Simulações em sonhos. Projeções do que poderia ter acontecido dada a experiência passada. O melhor é não sair à noite, o melhor é o fogo, um bando, um abrigo, uma lança, uma oração, uma forja, uma pistola, uma área de proteção ambiental, um satélite de monitoramento, uma transliteração espiritual, uma política pública, uma multa, uma sentença de morte: segurança, a mãe de todo o controle. O pai de toda a projeção. Eu controlo a natureza para ter segurança. E a segurança é um cenário do que pode ou não acontecer, não é medida para o agora. Não é medida no agora. Ela é uma negação positiva de uma antecipação: estou seguro porque não… Nunca é seguro porque estou ou sou. Impermanente. Tudo é. A segurança nunca será permanente, nem a paz, nem a dor, nem a felicidade, nem a perda, nem o amanhã. Nem a eternidade vindoura. A eternidade não virá, não será, ela só pode ser. E ela é. Agora. Contraditoriamente repleta e vazia. Nem começo e nem fim. Por isso, o antiprojeto. Adentrar na eternidade é antiprojetar, o medo ainda vai continuar, assombrar, assomar. Antiprojete sua vida e sua morte, como se fosse agora, porque é.

4162. O Krakatoa sabe

Vai desabar lava
fogo que vai
desabar lava
pra queimar o que tem que queimar
pra queimar o que tem


vai desabar lava
e é pro nosso bem

como as lâminas de raios e séculos
aglutinados nas raias do repouso
rarefescendo o ímpeto de vida que nos irrompia
e rescendendo o medo e a ânsia de e pelo fogo

pausa e contempla

o ar se alastra como sempre nos cobriu
a seiva pulsa como sempre nos alimentou
o sangue corre como sempre respondeu
a terra corre nascendo o tempo

tudo treme inteiramente
e a flama não cessa
de dentro das entranhas o movimento nasce
e se lança para o infinito

o caos é belo e horrível
e derrete certezas
e beija a escuridão rumo ao impossível

que somente ele é

4161. convive 1

escorre pelos dedos e pelas brenhas dos neurônios um nada que acomete a força dos dias em se desdizer o ontem de proto felicidades que somente seria no dia que virá. agora o virá virou apenas a expectativa do amofinado anterior que a tudo conduzia cinzas das horas mortas na ânsia de que não seria em momento vindouro. agora é espera de cinzas em urnas e funerárias em admoestação contra o que perturba. a falta da turba e a visualização do espectro de sombras e destroços que impeliam o corpo à inércia pede apenas que tudo seja dito relutantemente. é um incômodo por não acabar. sentar-se à varanda. sentir a companheira não querer sua presença e ansiar a sua presença e não poder falar porque nada pode ser dito nesses dias de vigília e de vidigal. tremores e arrepios se lançam elétricos sobre a pele e sob ela alquimias transacionam mais um semblante de vazio e de vaguidão por entre as horas. espero o nada e ele já se apresenta.