4009. Treme

Um tempo de têmporas e reviradas,
sempre soube que o passar desvia o eixo
que o fato não acalenta a lida
e o pouso se intromete nas cercas

Um trajeto de sangue e revoadas,
nunca disse que a trilha era do início ao fim
que o marco não enganaria os horizontes
e que o fluir não desintegraria as raízes

Eu ponderei o pó por onde andei
e perdi o rastro na poeira levantada

As partes não se encaixam
num mundo de calor e gelo

Há o que comprime e o que expande,
uma revoada de bichos solitários
na noite mais clara que já existiu

Perdi a tessitura da claridade e da escuridão
como todos os bichos se esquecem agora
o translado para onde

Onde urge um fim

4008.

a cada dia a carne cansa mais
as noites, todas iguais
as camas, subnormais
as festas, farsas, sinais
o espírito do tempo, sem cais
o sorriso, obrigado, não traz

uma pressa de esperas
de esporos por abrir plantas
de esporas nas costas
de esporros internos

os infernos não esperam a morte
eles nascem e renascem
todas as vidas em dias

4006.

Dentro da caixa
apenas fios emaranhados
novelos embolados
nós,
cortes bruscos
retalhos
coloridos sinais

Alguns nós já cegos
não desatam mais
viraram cordões de macramê,
outros uniram pontas
secretas
os fios do passado
preenchendo os carreteis futuros

Outros fios permanecem ali
meio soltos
meio presos
meio tecido desfiapando

Tem esses fios que insistem
em ser ponta para uma costura
linha pra pipa
papagaio, pandorga
voo ao vento no céu de inverno,
o que liga as mãos
ao que voa ao ar

Não são fios emaranhados,
são bem conhecidos, soltos,
se puxar eles se vão

De quando, eu puxo
mas não tem fim
passam pelo todo
se aninham além novelos
dão o contorno solto
pelo todo do embolado

E são longos, firmes,
todas as cores
os mais visíveis
nunca acabam

O amor não tem fim.

4004.

A poeira toma conta do chão,
dos móveis, dos imóveis, das coisas
imateriais

A poeira toma conta da mente,
do espírito, da

É um pó fino, restolhos de papel,
grãos de arroz, pelos, partículas de peles
primatas

Eu me perco na poeira
fico parco,

Me entremeio
nesse mar de
fragmentos

Em qual lufada de vento que
me perdi, não
sei

Parece que não há como juntar
e às vezes junto tudo debaixo do
tapete

Mas tudo espalha de novo
pela casa, pelo todo, sem
firmeza

Só voos e estacionar

Poderia ser bom, ser lindo,
delicado, livre, mas não
é

É apenas um espalhado
de partes e sujeiras, por toda
parte

Sem fim,
sem firme, ser
despedaçado

4003.

o que sobra são as partículas de pó de julho
junto a junho e vento seco
som de lua e luz de cheia quase ainda

o que sobra o peito aberto sem espanador
por perto um observador
interno externo

ego superego
rolê de rolas
ambulantes falos
falantes paus
proto pensantes
e tudo antes que algo preencha

o que sobra é a sombra solene
selvagem e silenciante da paz
semblante de sóis ao sal dos olhos

o que sobra é o assombro de uma
tarde que finda
sob olhares herméticos
de alfas-ômegas machos
no ocaso dos bastiões
bastões e porretes

o que sobra são os seixos
que rolaram eras atrás
rocha e rolagem
findada pelo explode pop
das engrenagens
roldanas por erguer
peso morto
como o peito vazio

o que sobra é o insumo
para o consumo
preenchido prisma
refratário de luz
que apaga
o ocaso do horizonte
o orí do azimute
o eixo deslocado
e o córtex da galáxia aproximando

o que sobra é o que completou
a necessidade
essa noite quase são joão
que paira e queima
e inteiramente plena
navega no vazio do peito
até cair breu
e avançar espuma pelo
frio da manhã,
sem vida

4000. A cá lentar

Recuperar a solidão,
sentir as escamas da
deusa roçar.

Perceber a forma do
firmamento por dentro
da pele dele.

Ver a derme aerada,
branda, nuvem, espuma,
pluma de pomba branca.

Ter dimensão das próprias costas,
a firmeza, o cansaço,
a justiça umidamente em brasa.

Centelha divina
de gotícula de chuva fina
e torrente caudalosa de fogo em brasa.

Estar só para que não.

Sair das telas,
fazer de telas as lentes
dos óculos para a composição divina,
beyond HD.

Projeto de dentro para fora
o mundo que me invade de fora para dentro.
Meus olhos como enigma do divino.

Minhas moléculas que espraiam.

Adentrar,
Orun traz
a cá lentar
o Ayiê.

3998. era de aquário

meu problema não é descer depois,
é descer antes
o dedo no botão
a mão na corda
quem me tombará?
em qual curva meus pés
perderão o assoalho?
em qual baque do freio
no feriado forçado?
o corpo de cristo
nem consegue mais ascender
o fogo, a chama, falha
não há combustível
sequer fagulha
e tudo à beira da combustão

a análise
os fractais, as fissuras, as filas, o fórceps, a foice, a fábrica, os feixes, a fábrica, as facas, as farsas, o fake, o face, as faces, o fácil, as fórmulas, a filantropia, a ferrugem, o folião, o free market place, a fuligem, o fim, a folga, o fole, a fatura, o fôlego, o futuro, as formigas, a família, a fechadura, a ferradura, a fé, o ficar o
que fica, o que finca
a foz
onde acaba, deságua
que não desencarna,
desalma

meu problema não é descer depois,
é descer antes
a estrutura é inacabada, obra por fazer
células, corpo
a placa é de inauguração
e eu não me perdôo
e é uma dor intermitente
a upa fechada
opa, fachada
ofídico veneno de rato
na lata

são camadas e mais camadas
terra em cima de terra,
em cima de rocha
debaixo de lava,
dilema da futura pedra,
corpo da faca projetada na mente a fogo,
fato que enxada e pá
a cavar as camadas e mais camadas
de sangue, suor e lárimas
(e sorrisos e almas tristes,
centenárias, milenares, imemoriais,
perdidas repetições em lendas longíquas
intercontinentais
consumidas em nossas cabeças)
camadas dilaceradas, estratos,
classes, filos e ordens
progressão incomunicável do futuro
pelas vias do passado

o que me silencia é
a voz de todas
retumbo, eco, explosão
a dilatação do infinito
que me entranha
meu carvão, petróleo e gás
minhas plantas que
sobrevivem o sol de bilhões passados
a cada queima,
agora e sempre e até seu fim
minhas plantas que me falam a linguagem
incompreensível dos elétrons e dos polos

a divisão da humanidade
as boas e as más companhias
que decidirão o julgamento do passado
na próxima parada
que não é a que desço,
pois já desci antes,
já apertei o botão,
já puxei a corda,
já me ajoelhei e clamei ao deus shell,
lubrax para os sumérios,
que me leve, me livre, nos livre
sentença e distração
para o processo das galáxias,

um sorriso falso e tudo
se acalma, o bombom
que paga a faculdade
e tudo certo
a janela da alma trincada,
o coração apertado,
partido, mil desejos,
cem mil culpas,
nada basta,
tudo besta, bosta
o dedo rola, passa,
próximo, próxima,
aproxima que o engodo é bento
é banto e basco
bárbaro

meu problema não é descer depois,
é descer antes
como nada mais suspira,
só arfa
afã do arpão na própria glote

te chamaria mar
se fosse líquida e o houvesse
soterra
soterrado por cada vez mais

                                 ar

3997. Impossível

se eu pudesse ter duzentas vidas
para sentir o que sinto
e viver tudo o que me abarca
se eu tivesse trezentas chances
para construir o que me cresce
se eu tivesse quatrocentos peitos
para ousar todas as flores
se eu virasse quinhentos seres
para dignificar todas as possibilidades

se eu pudesse ser o que me habita
não seria o punhado que nas mãos
vira areia solta, grãos, fragmentos

seria o imponderável
onipotente como deus
que dá a graça de ser só isso
que anseia o espelho do espelho
além além além
do que é possível

IA

Ia, de Guilherme Carvalho.

No começo do ano passado eu tive um surto, em diversos sentidos e significados da minha vida. Recomposição de tudo. No meio disso, por causa e para além disso, dizendo disso e do resto todo, estando no mundo e o vendo ir, tive e síncope de um livro de poesias. Veio vindo de uma vez, vazando por todas as partes. Vi que tudo ia e resolvi dar vazão a esse veio de versos tortos. O resultado foi este IA.

Ia, de Guilherme Carvalho.

Subversão da inteligência artificial num verbo substantivado para demonstrar o que minha constituição percebia que ocorria no mundo, e que ainda ocorre. Não é um livro de amor, não fala de amor, o pensa pouco. É um livro de política, de crítica da cultura, de historiografia geográfica póstuma, de antropologia filosófica besta, feito com algum amor ainda pelo mundo, que flerta com a esperança, através da desesperança plena. Amor tal e qual o que anda no mundo cotidianamente: o que ia por aí.

A sincronia ocorreu plena neste ano, uma Editora da Paraíba, chamada Editora Escaleras, topou a empreitada de publicar meu IA. O resultado é este livro, minha primeira publicação impressa. Feito com muito cuidado, profissionalismo e qualidade pela Editora.

O lançamento será logo mais, avisarei pelos caminhos das redes quando ocorrerá. Quem quiser adquirir desde já o livro, entre em contato nos comentários ou pelo e-mail: gcarvalho.silva@gmail.com.

Axé.

3993. Journey to down

Aquele que inicia
acima como abaixo
– fagulha cintila
centelha binária
dentro da expansão
que implode

O brilho da explosão
nos emoldura
antes do universo
o próprio contraespelho

O silêncio da matéria
reverbera na luz
que só emoldura a beleza
pela beleza do negro

A cada manhã o sol
tapa a imensidão da escuridão
com sua luz
e a mentira do azul
– o brilho e o anil que cegam

Toda noite o sol apaga
a sua razão
para o infinito não visto
enquanto cabeças dormem

O sol mente e trai
– atrai
todos os dias
esconde suas irmãs heliocentricamente
ego

  

Apagar o sol dentro
dois instantes
três
até reencontrar todas as estrelas
aqui embaixo

3992. Canto de Akesan

O estado das coisas,
anunciação
Foi a diáspora empreendida
fora de qualquer êxodo

Todo êxodo, agora

A gestação inabitada
no ventre
– o futuro
Milhares de células
segregadoras

Desterro de manada
Deserto de tronos em torno,
disparada
Sete palmos
Sete céus
Sete taças
Sete léguas sempre à frente,
jornada

O horizonte circular
– todo ponto retorna a ele mesmo

Esfera

A imensidão vocifera a luz do início
– ponte entre lá e cá
ponto de ouro para a mudança da prata

O que virá é só
o que vai
é só o que volta

3989. Caminho por quem?

Quando me levanto,
por quem?
Quantos me habitam?
algum eu mesmo não sei
Quem observa minha trilha?
Quem se despede na partida?
Quem mensura a chegada?

Os desvios desavisados
por quem?
As fugas forjadas
por quem?
As encruzilhadas perdidas
por quem?

Quem, senão eu mesmo?
que não sei quantos quens
caminham dentro dos meus caminhos

3987.

busão febril
cá dentro
cada baque no
buraco do asfalto
um tiro no
tímpano redundando
em todo o encéfalo

agonizar sem
nenhum ferimento

a ansiedade da virada
sem ter onde apoiar

cada buraco do asfalto
um precipício
hospício
em que nos jogamos

coletivos

3986.

não por agora,
disse

a máquina da ansiedade
ligada
o motor mercurial de marte alucinado
antecipa o passado
reticências insistentes
passa o futuro

eu não sei o que se passa
só o que passa presente
como em mil novecentos e oitenta e um
ana c e paulo paes,
mora?

saí das redes, não sei o que se passa
se instalou lá onde não estou
eu disse oi para o éter
fiquei com o momento presente
traços cinzas das cinzas sem respostas
não como em mil novesentes e oiatenta e ruim

liberdade, construção caduca ideacional
não sei mais o que se passa
a teletela do desejo como dois animais
não há mais segredos
não há mais degredos
há medo e mote e glosa
nada se mete
nada responde

fiquei no vácuo das redes
afirmado para o quê
contradizendo o quê
te vi de relance
depois sumiu
não tinha mais redes
nem sei mais o que cê pensa

nem sei mais,
mora?
como em 1981

3985.

eu te quis, como se diz, com todo o ardor
você olhou o buraco do meu assoalho
falou “põe um tapetinho, fica mara”
e me ardeu por meses a fio
eu vi o brilho nos olhos em todos os olhos
o brio
a flama
a flâmula
a chama
encharcada

havia um horizonte azimute estelar
jorro de estrelas pelas beiras
cópula constelar helicoidal no entremeio da galáxia
havia uma doçura dourada persa
camafeu de marian protetura

os séquitos entrelaçados
esbanjavam o alarido hálito árido
compensando a chuva desabrida

lírios bojudos ressuscitavam
o que nada suscitava; a música do ar

e eu te quis, como se diz, como a planta suga
o néctar do sol
fotossintético e fotoanalítico
fótons teus, tons de cor de cachos de cabeça

um pouco mais dos andares da lua
um tanto menos que o percurso do sol

até que o desabrido do começo do céu
da minha cabeça vomitou o urro do breu
e uma brecha para fora de tudo se vomitou em mim
epítome do desaprendido eterno da vida

eu te

3982. O grande exército do nada para o lugar nenhum

Uma marcha trôpega
capenga
bracaleônica,
rumávamos um tropel desalinhado
novelo de teias dispersas
dissolvidas no ar

tudo passava imaginário

Nossas armas eram retângulos
abaulados
e dizimávamos a nós no percurso

Cada baixa era policrômica
unicórnica
tergiversante
falaciosa

Enquanto isso o front contrário contava
as adesões e gritava que a vida branca importa

Nossos deuses morriam de inanição
e nossos cânticos de guerra
nos levavam os cus aos chãos

Nosso exército sem exercícios militares
e sem milicias que apoiassem

Rumávamos ao léu
nenhures de nada além

e bem sabíamos

3977.

Os fogos orgíacos
Nero sorri
O gozo não é pelo fim
é pelo momento
selfie-explosão nos céus
Putas amordaçadas
cidadãos de dem
além do bem
Jornais jornadas
roubadas de junhos
até o infinito
O que veio vindo
não vaza
escorre visgo de ar
tomando todo o fôlego
Doutrina do choque
sem tirar de dentro
Não tem mais centro
é só extremo
Estrume infértil
que alimenta egos

Tudo há de dar
incerto

3973.

A coisa se mede com um contorno desmedido, tudo trava, tudo quebra, nada arrebata, só arrebenta. O mundo da cabeça desajusta com o mundo do lado de fora do orí, o plexo solar não funciona, os chacras entupidos por gárgulas e fadas, as imagens de algo não realizado que insuflam o desejo e um alento nada cativante que teima em se coordenar mais que o necessário para tentar ser vida. O surrealismo da falta de lastro de realidade cria um imobilismo nonsense num instante fantasmático. Os polostícos paleolíticos paranormais não priorizam a vida de dentro. O que se falar? Nada além de nadas ensimesmados. É uma sexta, é um vinho, é Fátima e nada. Nada ao redor a não ser todos os velhinhos e velinhas do meu prédio assistindo a Globo. A janela do nono andar é uma coisa ancoradora. No nada. Nem lá nem cá, o aéreo dissipado mundo que fora líquido agora nem aterra nem desterra, ninguém é dono de nada. O cansaço disruptivo te enfia dentro da realidade, amanhã, sábado, dia de trabalho, folga de Deus, nem será de dádivas, só de dívidas, 0,01% para quem detém os dividendos de 99,99% de vida. As auroras já não refazem o caminho contínuo até as noites, elas prismam uma luz difusa até que percebamos que nada mais se encaixa. As noites eram mais bonitas nos meus sonhos de criança.

https://youtu.be/TP7Gb0uSieQ

3972. Modernidade etérea

Quando as sirenes passam
giroflex faiscando as margens da noite,
me pergunto:
serei eu?

Quando os helicópteros
sobrevoam rompendo o ar nenhum,
me acomete:
me buscam?

Quando as botas se aproximam
ecos em marcha em volume compassado,
me estremesse:
qual próximo serei eu?

Uma culpa em vestes de medo
sem culpa alguma,
mas a intuição que
frita as têmporas
e descama o dentro:
assombra o mundo
que me habita:

a liberdade é só um conceito transparente.

3971.

A humanidade racha
mímese da própria Terra
síntese das fissuras

tudo se separa
– até rachar –
apenas seguimos
os campos mórficos terrenais

Divergências, convergências
de placas e peitos
lava em magma de erupções

Terra treme
terra racha
terra nós
rocha
até aterrar-nos

3969.

Fiz uma viagem
para além de mim
divagando obtusamente
um oceano de
identidades não mais
liquefeitas, mas rarefeitas

Não sei porque sorri,
ousei ossos para a
travessia e cumpri
metas esquisoanalíticas
– piscavam somaticamente
antes de as cumprir

Medi distâncias
do além de mim
dentro de mim
e fui perseguido
por botas e dedos
e ninguém quis afagar ou cortar
minhas bolas
nem eu ou a honradez
só a desfaçatez

Andei esses muros psicoides
com as mãos em bananeira
Rotas desencontradas
na perpendicular avessa
dos muros
– rotas que nunca vi
nem quando passava por elas

Rasguei minhas roupas
na travessia e me
atravessei para o além
de mim
de tão apartado que
andava comigo
apenas adentrei-me

Dentro era todo o além

3967.

o que tem nessas entranhas
que quando sai estranhas
e transfere a outras vísceras
todo o ardor borbulhante
do que interna em ti?

as execuções sumárias
sumarizadas nos jornais
só afirmam as sentenças
que pululam nas cabeças descabidas:
menos um, menos uma, menos um, menos uma, menos um, menos uma
menos
talvez eu sobre

as tropas se alinharam
nossas gargantas de dedos rígidos e flácidos espasmam
num fluxo aceitação

as armas distam
um frio em nossas têmporas
tudo rio

3963.

do pouco que propusemos
sobrou a antítese perfeita
o malogro da intuição falha
o não se observar
o fato fausto intento
foi o que houve
as sobras do que será
o passado sempre
ocorrendo corroendo
correndo para repetir
como se a andança
versasse mais que
o próprio tempo a transcorrer
uma falta que se
compõe lentamente
manifestamente insistente
em não passar

os pregos postos
nas mãos e pés
e punhos e coroas
e cruzes eternas

campos mórficos ressignificados
as formas que nunca acabam
eternamente a ser o agora

3962.

aquilo que a gente sempre fez a vida toda
não por fuga ou tratamento
mas por necessidade
os passos que salvariam alguns reais
um cigarro ou uma breja
os passos que te aliviariam a mente
e correntes de aço ou elétricas
e o silêncio
não de quem não tem o que dizer
mas de quem não precisa
ou se cala por força de ego não robusto

agora é tudo estratégia revolucionária
mindfulness libertação

ando a pé e me calo
desde sempre
e continuo tão prisioneiro
quanto qualquer que seja